Primeiro, a campanha de 2010. Agora, a de 2014. A nova líder do Partido dos Trabalhadores (PT), Gleisi Hoffmann, foi confrontada na noite de segunda–feira com novas suspeitas de corrupção e lavagem de dinheiro, mais uma vez em conjunto com o marido, Paulo Bernardo da Silva, e mais uma vez relacionadas com subornos da Petrobras.
Pelo menos assim o diz a Polícia Federal numa investigação que ainda tem de passar pelo Ministério Público e pelo Supremo Tribunal, o único que pode julgar congressistas como Hoffmann.
O gabinete da senadora, que, como o marido, foi ministra no governo de Dilma Rousseff, fez saber na segunda-feira que “não há elementos nos autos que autorizem a conclusão alcançada pela Polícia Federal”, acrescentando que “não foi praticada qualquer irregularidade pela senadora”.
Hoffmann pertence ao grande amontoado de congressistas brasileiros em investigação (ou já condenados) por suspeitas de corrupção. São a maioria no Congresso, rondam os 60% e muitos têm pelo menos algo que ver com a grande investigação à rede de corrupção interpartidária que durante anos funcionou na Petrobras. A nova líder do PT não é exceção. Em setembro de 2016, três meses depois de Bernardo da Silva ter sido temporariamente detido, o Supremo acusou o casal de receber um milhão de reais – ou 270 mil euros – através do esquema da Petrobras, destinados, segundo o Ministério Público, à campanha da senadora de 2010. Junta-se agora este novo processo, embora o caso esteja no seu primeiro estágio e tenha ainda de passar pelas mãos dos procuradores brasileiros.
A Polícia Federal diz que, quatro anos depois da eleição em que a senadora supostamente recebeu um milhão de reais da Petrobras, Hoffmann voltou a beneficiar do esquema de corrupção na petrolífera, recolhendo centenas de milhares de reais para a campanha de 2014. De acordo com a nota publicada na noite de segunda – madrugada de terça-feira em Portugal –, o processo começou com a apreensão de documentos na casa de uma das secretárias da construtora Odebrecht, uma das empresas centrais na rede investigada pela Lava Jato.
Linha Lula
Num dos documentos, a secretária da Odebrecht registava dois pagamentos, cada um no valor de 500 mil reais, a uma pessoa identificada pelo nome de código “Coxa”. Estava também lá registado um número de telemóvel e uma morada. A polícia afirma que esses contactos pertenciam a “um dos sócios de uma empresa que prestou serviços de propaganda e marketing na última campanha da senadora Gleisi Hoffmann”. A investigação deu com outros pagamentos, mas não é certo que estejam ligados à senadora. A Odebrecht confirmou parte dos subornos num acordo de “delação premiada”, o mecanismo que mais movimenta a Lava Jato e que permite aos réus reduzirem a pena denunciando cúmplices.
Gleisi, eleita líder do PT em junho deste ano, é encarada sobretudo como próxima de Lula da Silva, que sugeriu o seu nome para substituir Rui Falcão e concorrer contra a ala mais à esquerda do Partido dos Trabalhadores. Hoffmann começou o mandato de dois anos à frente do PT apoiando a candidatura de Lula à presidência, praticamente um mês antes de o ex-líder ter sido condenado a nove anos e meio de prisão num caso de corrupção e lavagem de dinheiro semelhante ao que foi atribuído a Hoffmann em setembro do ano passado.
No momento da sua eleição para líder do PT, a senadora distanciou-se do mea culpa partidário: “Não somos organização religiosa, não fazemos profissões de culpa, tão-pouco nos açoitamos. Não vamos ficar enumerando os erros que achamos para que a burguesia e a direita explorem a nossa imagem”, afirmou então a senadora.