A guerra dos tronos deixou Westeros para o mundo virtual – ou como a HBO está a ser chantageada por piratas informáticos. Ambas as ilações podem bem ser o resumo desta história – um desafio antigo para a cadeia televisiva norte-americana, que todos os anos trava uma luta feroz para que os episódios da série, que é a sua joia da coroa, não sejam divulgados online antes da sua transmissão televisiva. No entanto, este é um braço de ferro que podem estar prestes a perder – ou, pelo menos, a ceder.
Se a HBO não pagar, até ao dia de hoje, cerca de sete milhões de dólares em bitcoins – o que os hackers consideram, jocosamente, ser o seu “salário por seis meses de trabalho” –, o mais provável é que os episódios remanescentes da temporada sete de “Game of Thrones” ou, pelo menos, partes deles – emitida em Portugal pelo Syfy – sejam colocados online pelo grupo de hackers que roubou os ficheiros na semana passada.
O aviso foi posto online pelos piratas informáticos na passada segunda-feira, dia em que, por cá, vimos “The Spoils of War” – o episódio mais curto de sempre da série mas, provavelmente – e para manter os spoilers longe desta notícia, sejamos contidos na descrição –, o mais recheado.
Para comprovar a ameaça, o grupo colocou online mais de cinquenta ficheiros e documentos internos roubados dos servidores da HBO – onde se incluem os guiões de cinco episódios, um ainda por estrear, uma série de documentos confidenciais e ainda uma lista de 37.977 emails à qual chamaram “Richard’s contact list”, que se referirá, relata o “The Guardian”, ao CEO do canal. Já o “Jornal Económico” diz que a lista em causa refere-se a um mês de trocas de email de Leslie Cohen, vice-presidente da cadeia televisiva.
Além do leak de documentos – um total de 3,4 gigabytes –, foi ainda divulgado um vídeo de cerca de cinco minutos em que um dos membros do grupo, sob o pseudónimo de Mr. Smith, se dirige diretamente ao CEO da HBO, Richard Plepler, com uma reivindicação: Plepler tem até hoje para pagar uma soma que corresponde a metade do valor que o grupo diz ganhar, por ano, em ataques semelhantes. Um número que se situa – alegam os piratas informáticos – entre 12 e 15 milhões de dólares, o que coloca o valor da extorsão entre seis e 7,5 milhões de euros, avançou a agência Bloomberg. Caso a HBO se recuse a pagar o resgate pelos conteúdos, os piratas prometem divulgar o material, que vai muito além dos ficheiros vazados na segunda-feira. Segundo “Mr. Smith”, o grupo tem na sua posse 1,5 terabytes de informação, onde se incluem episódios desta série e doutras produções do canal, bem como milhões de documentos. E o grupo até construiu um logótipo para acompanhar a ameaça, onde se lê um premonitório – ou talvez não – “HBO is Falling”.
Seis meses O ataque, dizem os hackers, não é o primeiro do género levado a cabo por Mr. Smith e companhia. No vídeo, o ‘porta voz’ dos piratas informáticos assume que demoraram seis meses a penetrar as barreiras de segurança informática da HBO que, por sua vez, já admitiu o roubo. Durante a mensagem, é ainda explicado que a cadeia televisiva é a vítima número 17 do grupo e que, até à data, apenas três empresas não cederam à ameaça e recusaram o pagamento do resgate.
Segundo a “Bloomberg” , numa das imagens do vídeo, é possível ver uma pasta de ficheiros em que, aparentemente, estarão os contactos pessoais de algumas estrelas de “A Guerra dos Tronos”, como Peter Dinklage (Tyrion Lannister), Lena Headey (Cersei Lannister) e Emilia Clark (Daenerys Targaryen).
A HBO já fez saber que o caso está já a ser investigado, não só pelas autoridades competentes, como também por especialistas em cibersegurança. Após o vídeo ser divulgado, na segunda-feira, o canal afirmou, no entanto, não acreditar que “o sistema completo de email tenha sido comprometido”.
Sony Tal como na ficção, ainda não é possível intuir o final desta guerra nem quem se sentará no trono de ferro – se a HBO, se a pandilha de Mr. Smith. Dado o êxito da série e dependendo das consequências por vir, é possível que este se torne noutro grande escândalo no mundo dos roubos cibernéticos, um pódio que continua a ser encabeçado pela Sony Pictures.
Recorde-se que, em 2014, um grupo de hackers autointitulado de “Guardiões da Paz”, roubou informação delicada da empresa, incluindo “emails embaraçosos e detalhes pessoais dos funcionários”, lembra o “The Guardian”. Neste caso, o roubo – considerado pela Sony uma “situação sem precedentes” –, gerou caos na empresa. Os servidores da Sony chegaram a estar offline e as produções cinematográficas suspensas. Tudo somado, o prejuízo estimado do ataque rondava os 100 milhões de dólares. Será hora de fazer contas na HBO?