Não há nada a fazer: assim que chega a Europa, o leão treme. Principalmente quando se trata do play-off de acesso à fase de grupos da Liga dos Campeões: nas quatro vezes em que disputou esta eliminatória, o Sporting caiu. Foi assim em 2002/03, na terceira pré-eliminatória (então a última fase antes da fase de grupos), contra o Inter de Milão; em 2005/06, com a Udinese; em 2009/10, perante a Fiorentina; e em 2015/16, já com Jorge Jesus ao leme, face ao CSKA de Moscovo (com o agora leão Doumbia em destaque). Ninguém garante que vá voltar a ser assim – ainda falta a segunda mão, na Roménia. Mas este 0-0 não contribui para deixar os adeptos muito confiantes para o que aí vem…
Também é um facto que, de todas as equipas atrás enumeradas, este Steaua será a de menor valia – não pelo historial, riquíssimo, mas pelo presente, bem longe desses anos dourados do futebol romeno na Europa. Impunha-se, todavia, algum respeito pelo adversário, que ainda não havia sofrido qualquer derrota esta temporada, tendo inclusivamente vencido os três jogos que disputou fora de casa (um dos quais na terceira pré-eliminatória desta competição, quando foi à República Checa vencer por 4-1 e afastar o Plzen). E ontem, em Alvalade, deixou à vista o porquê, na primeira vez em que o Sporting não conseguiu vencer um adversário romeno no seu estádio.
ocasiões para os dois lados O arranque foi dividido. O Steaua, orientado pelo ex-internacional romeno Nicolae Dica, não surgiu minimamente encolhido em Alvalade – antes pelo contrário – e criou logo algum frisson nos instantes iniciais da partida, com uma iniciativa de Alibec cortada por Mathieu e um livre para a área que acabou por não criar perigo. O Sporting assumiu então as rédeas do jogo e criou de uma assentada três ocasiões: a um remate de longe de Podence, ao lado, seguiu-se uma tentativa de Mathieu, também com a pontaria desafinada, e depois um remate de Piccini para as mãos do guardião Nita.
Mas o Steaua nunca se deixou subjugar. Quando parecia estar fora da discussão pelo resultado, dava sempre aquele golpe que provoca calafrios nos adeptos adversários. Como aos 22’, quando Alibec, do meio da rua e sem qualquer tipo de sobreaviso, disparou uma autêntica bomba que quase apanhava Rui Patrício desprevenido. No lance seguinte, Acuña (que é um reforço na verdadeira aceção da palavra) fugiu à defesa romena e atirou cruzado ao poste esquerdo da baliza do Steaua, na que foi a ocasião mais flagrante dos leões em todo o jogo.
E aí vinham novamente os romenos: à passagem da meia-hora, o capitão Alibec – quem mais? – fugiu a Gelson e Piccini, entrou pela direita da defesa do Sporting e disparou para defesa muito apertada de Rui Patrício, deixando desesperados os dois colegas que surgiam na pequena área à espera do que seria um passe mortal. Foi a última ocasião de golo da primeira parte.
O segundo tempo começou logo com um cabeceamento de Mathieu para fora, mas viria a mostrar mais do mesmo: o Sporting a tentar mais – como lhe competia, pois jogava em casa -, mas sem engenho, e o Steaua a só atacar pela certa, mas bem. Foi assim que, aos 58’, o português Filipe Teixeira quase festejava, mas o domínio saiu-lhe mal depois de aparecer isolado na cara de Rui Patrício.
Jesus começou então a mexer, lançando Doumbia e logo a seguir Bruno Fernandes nos lugares dos apagados Podence e Adrien, e as substituições surtiram efeito, tornando os leões mais perigosos e acima de tudo presentes no último terço do campo. Claro que tal postura pode trazer dissabores, como aquele que ficou muito, muito perto de acontecer aos 78’, quando Alibec, num contra-ataque mortífero, isolou Enache. Na hora de atirar à baliza, o lateral-direito romeno falhou por uma unha negra. Alvalade gelava.
A um remate perigoso de Bruno Fernandes, detido por Nita, seguiu-se o lance que poderia dar mais alento ao Sporting: Pintilii viu o segundo amarelo, num lance muito discutível com Fábio Coentrão – que de não convocado passou para titular… -, e os leões ficaram em vantagem numérica para os últimos dez minutos mais descontos. Mas, perdendo-se num futebol atabalhoado e com algumas decisões ridículas de “reforços” (com Piccini e Battaglia em destaque pela negativa), só nas últimas duas jogadas do encontro conseguiram criar perigo: primeiro por Bruno Fernandes, num remate que passou a rasar o poste direito da baliza romena, e depois por Bas Dost, que viu o guardião do Steaua negar-lhe o golo na recarga a um pontapé acrobático de Mathieu. O árbitro, todavia, acabou por assinalar ação irregular do holandês… e não deu para mais.
Reforce-se a ideia: nada está perdido. Pelo contrário: bastará marcar um golo em Bucareste – se o fizer, até pode sofrer outro – e o apuramento fica bem mais perto. A verdade é que, disputado o jogo em casa, os leões estão muito longe de poder sentir já os milhões da Champions a rechear os seus bolsos. Faltam 90 minutos de bastante sofrimento, pois este Steaua não vai entregar nada de mão beijada – isso parece bastante claro.