O calor abrasador de meados de agosto em Santa Apolónia faz com que a estação fique algo despovoada de turistas. Nos bancos apenas se sentam alguns indigentes que vão desconversando e bebendo vinho de pacote que, em teoria, deveria servir para a cozinha.
O sol bate com força nas chapas do telhado da estação, provocando um calor que aumenta com as manobras dos comboios que por ali vão passando para deixar e apanhar turistas.
Num dos bancos, sozinho, está Diego. Interpelamo-lo enquanto ele olha o horizonte rodeado de malas e mochilas. “Fala português? English?”, perguntamos nós. “English, a little bit”, responde, ao mesmo tempo que surge Maria com dois gelados na mão. Ao vê-la, Diego despacha-nos para ela. “Ela fala, ela fala”, diz.
Maria entrega um dos gelados a Diego e conta que são de Buenos Aires, capital da Argentina. Ela é professora de história e ele é chef num restaurante de Buenos Aires. “Aqui somos turistas, apenas turistas”, sublinha.
Maria e Diego estão em Lisboa há três dias e dizem-se maravilhados. “Lisboa é perfeita. É a segunda vez que aqui venho. Logo da primeira vez achei que era uma cidade incrível e fiquei aqui apenas dois dias, foi pouco. Desta vez quis ficar mais tempo e estou maravilhada”, confessa Maria. “Alfama, Praça do Comércio… Tudo perfeito”, completa.
A gastronomia é um dos aspetos que os fez apaixonarem-se por Lisboa: “Provámos a comida, claro. Provámos a sardinha assada e o vinho, por exemplo”. Comparando com o vinho argentino, Maria diz que “lá, na Argentina, o vinho é muito bom, mas aqui também é ótimo, está ao mesmo nível”.
Agora, após três dias em Lisboa, Maria e Diego vão para o Porto e depois para a Corunha, no norte de Espanha, onde vão a um festival de rock. “Vamos à Corunha ouvir rock’n’roll e algumas bandas argentinas que vão lá”, afirma.
O Porto também é uma revisita de Maria, que já tinha estado no norte “há uns anos”. “Também já tinha ido ao Porto. A cidade é mais escura, mais sombria, confesso que da outra vez tive algum medo, mas também é uma cidade linda”, diz a professora de história.
Depois do Porto e da Corunha, o casal vai voltar à sua vida na América do Sul. Mas só daqui a dez dias: “Infelizmente teremos de voltar a casa porque aqui está-se mesmo bem”. “Quem me dera estar de férias a vida toda”, desabafa Maria, que conta com o olhar cúmplice de Diego.