Catalunha colhida na onda terrorista

Atropelos devastadores em Barcelona e arredores fizeram mais de uma dúzia de mortos e acima da centena de feridos. Resultado de diversos planos terroristas de inspiração jihadista.

 

O terrorismo regressou ao coração da Europa e teve como alvo uma das zonas mais turísticas da cidade de Barcelona. Tal como já tinha acontecido em sete ocasiões durante o último ano, a principal arma utilizada pelos atacantes na Catalunha foi um veículo automóvel, lançado contra quem passeava na rua e com o intuito de atingir o maior número possível de pessoas, num conjunto de ataques que, de acordo com a polícia catalã, faziam parte de um plano terrorista, de índole jihadista, «de maior alcance» e com várias ramificações.

O triste balanço da tragédia espanhola, reivindicada pelo grupo terrorista Estado Islâmico, aponta para pelo menos 14 mortos e mais de 130 feridos, – 16 em estado crítico –, números que as autoridades assumem poderem vir a aumentar nas próximas horas. Entre as vítimas mortais contam-se cidadãos de mais de 30 nacionalidades, incluindo uma portuguesa de 74 anos, que passeava por Barcelona.

Na cidade condal o terror desceu pelas Ramblas por volta das 17 horas locais (menos uma hora em Portugal Continental) de quinta-feira, sob a forma de uma carrinha branca que acelerou a fundo desde a Praça da Catalunha e colheu centenas de pessoas durante o trajeto de cerca de 600 metros que a levou até à zona do teatro Liceu. Do total de vítimas mortais, 13 perderam ali a vida.

Os Mossos d’Esquadra ativaram rapidamente o «dispositivo previsto para casos de atentado consumado» e detiveram quatro pessoas nas primeiras horas que se seguiram ao atropelamento – duas na quinta-feira à noite e outras duas na madrugada de sexta-feira –, mas nenhum deles é o suposto condutor da carrinha. Entre os detidos encontra-se Driss Oukabir, um homem que foi identificado como responsável pelo aluguer da carrinha, mas que se queixa ter sido alvo de roubo de identidade. Segundo o La Vanguardia, a polícia estará agora focada em encontrar o seu irmão mais novo, Moussa Oukabir, e aponta-o como principal suspeito de ter conduzido o veículo pelas Ramblas. Ao todo, as autoridades procuram quatro suspeitos.

Um outro indivíduo que havia escapado a um controlo policial na periferia de Barcelona foi ainda abatido pelos Mossos, depois de atropelar e ferir dois agentes, mas não há certezas de que estivesse ligado ao ataque no centro da cidade.

Na madrugada de sexta, um novo atropelamento no passeio marítimo de Cambrils, perto de Tarragona, seguido de vários esfaqueamentos, deu lugar a um aceso tiroteio que culminou com cinco alegados atacantes abatidos, alguns deles munidos de cintos explosivos falsos. Pelo menos uma mulher morreu.

A proximidade dos ataques em Barcelona e Cambrils levou as autoridades a incluírem ainda mais um dado na equação terrorista e a avançar com a hipótese de um plano concebido para fazer mais vítimas. Isto porque na noite de quarta-feira já se tinha verificado um explosão numa casa particular na vila de Alcanar, motivada por um acidente com botijas de gás butano. Citado pelo El País, o comissário-chefe dos Mossos d’Esquadra Josep Lluís Trapero confirmou a suspeita de que aquelas estariam a ser preparadas para «atentados de maior alcance em Barcelona».

«No tinc por!»

O ataque nas Ramblas – o mais mortífero em território espanhol, desde as explosões na estação de comboios de Atocha, em Madrid, que mataram 192 pessoas e feriram mais de 2 mil, em março de 2004 – motivou uma enorme onda de solidariedade um pouco por todo o mundo, com reações de apoio aos familiares das vítimas e de condenação dos crimes, oriundas de figuras políticas como Marcelo Rebelo de Sousa, António Costa, Emmanuel Macron, Vladimir Putin ou Donald Trump.

Ao início da tarde de ontem, mais de 100 mil pessoas juntaram-se na Praça da Catalunha e nas ruas mais próximas, sob o lema «No tinc por!» (‘não tenho medo!’ em catalão), cantado pelos presentes vezes sem conta e reproduzido de igual forma pelas redes sociais.

Entre os que prestaram homenagem às vítimas do atentado, encontrava-se, por exemplo, o rei Felipe VI, o presidente do Governo, Mariano Rajoy, o presidente da Generalitat da Catalunha, Carles Puigdemont, e a presidente da Câmara de Barcelona, Ada Colau.

Portuguesas entre as vítimas

Entre as 13 vítimas mortais que resultaram do atentado terrorista nas Ramblas, em Barcelona, há uma cidadã de nacionalidade portuguesa. A mulher, nascida em 1943 e residente em Lisboa, estaria de visita à cidade condal com a neta, de 20 anos, que, à hora do fecho desta edição, ainda estava dada como desaparecida.

A informação da existência de vítimas portuguesas foi confirmada à agência Lusa pelo secretário de Estado das Comunidades Portuguesas, José Luís Carneiro, que garante que estão a ser desenvolvidas «todas as diligências» e prestar-se «todo o apoio necessário» para se apurar o paradeiro da jovem e auxiliar a família da falecida de 74 anos.

Em entrevista à RTP, ao início da tarde de ontem, José Luís Carneiro disse ainda que os contactos realizados pelas autoridades portuguesas com os hospitais de Barcelona permitiram apurar que, até àquela hora, não havia registo de portugueses entre as centenas de feridos que receberam tratamento hospitalar.