Fiz, em abril, sessenta e um anos. Sou portanto, em teoria, sexagenário há um ano. Mas permitam-me a ousadia de dizer que não me considero como tal. Sou, sim, um ‘sexalescente’.
Não está nos meus planos deixar-me envelhecer. Nem me deixar afetar pela idade. Quero continuar a trabalhar. Quero continuar a partilhar conhecimento. Quero transmitir a minha experiência – em rigor, as minhas experiências. Ricas e vividas. Sofridas e doridas. E quero, igualmente, conhecer novos lugares – e há tantos para descobrir – e redescobrir as minhas origens. Como acontece com o regresso à Feira de São Mateus, na minha cidade natal, em Viseu.
De verdade, a ‘feirar’ há 625 anos. Desde 1392. Foi no reinado de D. João I que recebeu o título de ‘feira franca’, e foi em Viseu que nasceu o décimo primeiro Rei de Portugal, D. Duarte. Exatamente, em 31 de Outubro de 1391. No ano seguinte, surgiria a feira.
Esta Feira de São Mateus assinalou, pois, um marco histórico da Monarquia portuguesa.
E esta redescoberta das origens acentua este meu lado ‘sexalescente’. Mando e-mails – não de todo o género … –, também uso Whatsapp! E vejo na net notícias e opiniões, comentários e ofensas, problemas e sorrisos. Troco mensagens afetuosas com os meus netos e tento responder mal eles me ‘acenam’! E não deixo de sorrir com as suas ‘provocações’, com a plena consciência de que, em relação a eles, sou um verdadeiro ‘info-excluído’. Sim: ganho em História e levo uma ‘goleada’ em jogos e na instantânea capacidade de descobrir músicas, filmes e imagens do ‘outro mundo’.
O mais velho dos meus netos diz-me que é um ‘pré-adolescente’. Ora, hoje mesmo – já que vamos viver intensamente um alargado fim-de-semana –, irei comunicar-lhe que não sou um sexagenário mas, sim, um ‘sexalescente’.
E irei dizer-lhe que há sessenta anos, com esta minha idade, seria um velho. Agora continuo a ser, com orgulho, um ‘pai com mel’, sempre com olhar atento e com vontade de, por vezes, assumir a educação como um processo que envolve momentos e instantes de assumida ‘deseducação’. Própria dos avós de todos os tempos e de todos os lugares. Mas com a plena consciência que sinto, e vivo, esta vida com muitas ‘estórias’ e conheço alguma coisa da História. De Portugal e do mundo.
E este regresso à Feira Franca ou a Valflor – ali na Meda bem interior – suscita um misto de memória e de vontade para agarrar o futuro.
Com a certeza de que quase já não choro quando o Benfica perde, mas fico bem triste e irritadiço. Com a lembrança do saudoso Professor José Maria Gaspar que, sempre que o Benfica perdia, me ligava (de um telefone fixo) na noite desse domingo para me comunicar que não estava em condições de dar a aula teórica na segunda feira de manhã.
E os alunos e as alunas já o sabiam, já que enchiam o anfiteatro!
Continuo como sempre a tomar boa nota do que dizem e escrevem acerca de mim para, em momento oportuno e sem faltas de memória, poder responder – mesmo que com um maroto sorriso – com eficácia e algum prazer.
Sabendo bem, de experiência vivida, que a vida – esta nossa vida – é prazer e dor. Como bem o sabemos com esta catástrofe nacional que nos domina, que são os incêndios florestais.
E, assim, sem excessiva preocupação com a roupa, e como li num interessante artigo, «celebro o sol de cada dia e sorrio para mim próprio». Em Portimão ou na Meda. Em Viseu ou em Odivelas. Em Lisboa ou em Sintra. Dizendo, mesmo que em voz baixa, mas sem qualquer vergonha, que sou um antigo sexagenário e um novo ‘sexalescente’!
Advogado