Sente-se um bafo quente dentro da estação de Santa Apolónia. O calor das três da tarde em Lisboa afasta os passageiros da estação e só quem não tem mesmo alternativa é que se abriga por aqui, ao lado dos quentes e barulhentos comboios. Só na zona das bilheteiras é que se encontram os magotes de turistas que normalmente dão vida à estação.
É entre esta zona da entrada e o cais dos comboios que encontramos Carmen Monteiro. De pé, debaixo das arcadas que suportam o relógio da estação, está com um mapa nas mãos, a tentar descobrir alguma coisa em Lisboa.
Carmen é portuguesa mas está em Lisboa na condição de turista. Carmen não é só portuguesa: conta-nos que nasceu no Brasil e que desde os três anos de idade que vive em França, em Cleremont-Ferrand, “mesmo no centro de França”, como a própria explica. “Nasci no Brasil, filha de pais portugueses que emigraram para lá, depois fomos para França e já lá estou há 46 anos”, diz num português perfeito, apesar de inicialmente nos ter dito que o seu português era “mais ou menos”.
Quarenta e seis anos em França já fazem com que se sinta mais francesa do que portuguesa: “O meu país é a França. Cheguei lá com três anos, estudei lá, cresci lá, casei lá, os meus filhos cresceram lá. Sou mais francesa do que outra coisa”.
Ainda assim, nas férias, Carmen faz questão de vir todos os anos a Portugal, desta vez até conseguiu vir dar uma volta à capital: “Estamos em Espinho e agora viemos passar dois ou três dias a Lisboa. Estamos aqui em Alfama e vamos agora visitar aqui os arredores”. Apesar de não ser a primeira vez que vem a Lisboa, confessa que não conhece bem a zona de Santa Apolónia: “Tenho família em Cascais e em Sintra, por isso, quando posso, venho até Lisboa no verão. Mas por acaso nunca tinha vindo aqui a esta zona. Geralmente, como estamos em casa de familiares, nas férias costumamos ir é às praias da linha de Sintra, praia Grande, praia das Maças…”. Agora, Carmen quer ir visitar o Chiado, era por isso que consultava o mapa que segurava no início da nossa conversa. O nosso conselho é simples: o melhor é mesmo descer e apanhar o metro.
“Lisboa está com muita gente, as ruas estão muito cheias”, diz, avançando com uma hipótese para a enchente de turistas: “Não sei se será por causa daquele navio que parou ali…”. Aquele navio a que Carmen se refere é o Independence of the Seas. Está, imponente, atracado no porto de Lisboa e é impossível não ficar a olhar para ele durante uns minutos à porta da estação de Santa Apolónia.