Sentamo-nos num dos bancos da estação de Santa Apolónia para observar o ambiente antes de abordarmos alguém que nos queira contar a sua história. Daqui medimos o pulso à estação: os turistas a chegar e a olhar, confusos, para o ecrã de informações, os que chegam nos comboios a abandonar o local o mais rápido possível, os indigentes que se juntam aos cantos, os pombos que vão esvoaçando indiferentes a tudo e o som dos comboios, que é quase sempre demasiado alto para se poder manter uma conversa ao pé das plataformas.
A meio da estação vemos uma rapariga sozinha a descansar as costas das muitas mochilas que traz. Alta e loira, dá a sensação de que não é portuguesa, poderia muito bem ser inglesa ou alemã. Assim, abordamo-la em inglês e explicamos ao que vimos, ao que nos responde: “In English? My English is not very good.” “Não faz mal, cá nos desenrascamos”, dizemos nós, perguntando logo de seguida o seu nome e de onde é. “My name is Assunção”, diz-nos. “Aaah, és portuguesa?”, perguntamos. “Sou, sou!”, responde a rir. Tarefa facilitada, mudemos de idioma.
Assunção conta-nos que tem 19 anos, é de Cascais e está a caminho do Sabugal, na Guarda. “Vou agora para o Sabugal animar um campo de férias”, refere, enquanto se aproxima Vasco, colega de Assunção.
O campo de férias chama-se Camtil. “Nós somos um campo de férias católico, temos uma vertente muito católica, ensinamos aos miúdos quem é que é Jesus e isso tudo, e depois fazemos vários jogos durante o dia, vamos ao rio, etc…”, explica. Assunção e Vasco vão fazer parte de um grupo de 16 animadores para tomar conta de 42 miúdos entre os 11 e os 12 anos. Vão ser dez dias de atividades, jogos, mergulhos no rio e ensinamentos sobre Jesus.
“É difícil, mas nós conseguimos”, diz Assunção, que já o fez várias vezes. Para Vasco, é a primeira vez: “Estou um bocadinho ansioso, mas confiante. Vai correr bem.”
Assunção é estudante de Veterinária, vai para o terceiro ano na Lusófona, está agora de férias e tem um sonho: “Gostava de ter uma clínica de pequenos animais, cães e gatos.” Um sonho difícil de concretizar, mas que não assusta a jovem: “Sinceramente, acho que vou conseguir. Se for muito boa, acho que vou conseguir. Mas ainda não sou muito boa. No futuro, se me esforçar, acho que sim.”