Queens of the Stone Age e Foo Fighters gravavam os novos álbuns no mesmo quarteirão e Dave Grohl, pregador-mor da fé no rock’n’roll, enviou uma mensagem a Josh Homme: “Vamos lá conquistar o mundo juntos! Porque não?”.
Já passaram mais de 25 anos sobre o verão quente de 1991 quando o “Black Album” dos Metallica, “Ten” dos Pearl Jam, “Nevermind” dos Nirvana e “Blood Sugar Sex Magik” dos Red Hot Chili Peppers saíram para rua no espaço de mês e meio, entre 12 de agosto e 24 de setembro; e 15 sobre “Songs For The Deaf”, cume da obra dos Queens of the Stone Age (QOTSA). Mas esta rentrée tem de novo entre os cabeças de cartaz, QOTSA, de volta com“Villains” (sai amanhã) e FF com “Concrete and Gold” (15 de setembro).
De passagem pelo estúdio onde o primeiro longa-duração dos Queens of the Stone Age em quatro anos tomava forma, o baterista-guitarrista-vocalista-traficante de energia elétrica foi expulso do local. Josh Homme, o megafone dos QOTSA, tentava gravar as vozes de “Fortress” e Grohl, bêbedo como um cacho, acabara de chegar de uma noite de farra. Foi o ilustre produtor Mark Ronson a “convidá-lo a sair” para não perturbar a sessão. “Um querido”, reagiu mais tarde Grohl em entrevista à Q, ao ter sido protegido pelo maestro de “Back To Black” de Amy Winehouse e cúmplice de Bruno Mars em “Uptown Funk”.
O debate sobre as intenções estava instalado, mas foi a canção pop tonificada pela era do streaming a estimular Josh Homme a trabalhar com Mark Ronson. “É perfeita”, disse o homem-forte sobre “Uptown Funk”. Um “lembrete” da “vasta sobreposição de formas” entre banda e produtor. Josh Homme prometeu um álbum dançável e “Villains” solta as hormonas ao nível de Elvis Presley.
O bólide já não tem a potência das primeiras corridas mas ainda acelera como nas últimas voltas e está mais flexível para se adaptar a outros pisos. Não perde o ímpeto rock’n’roll nem a combustão de quem vive ligado à corrente, mas adiciona-lhes um balanço sedutor como nem todas as bandas rock são capazes, sem baixar as defesas.
“Foi fixe termos trabalhado com ele porque é alguém que vem de fora”, acrescentou o guitarrista Troy Van Leeuwen sobre Mark Ronson. “Acontece que temos gostos e um sentido de humor muito parecidos. Ele é uma enciclopédia musical. Se lhe disserem um nome de um disco, ele sabe dizer quem tocou teclas. Passa muito tempo a ler fichas técnicas”.
Está explicada a comunhão. É natural que na pré-época de “Villains” as perguntas tenham causado a formação da equipa. “Foi como um sexto elemento”, descreveu Dean Fertita, o homem dos sete instrumentos. “Se tiveres a sorte de ter encontrado um som particular, tens de ter cuidado quando chegares ao sétimo álbum para não te tornares uma piada ou uma personagem de ti próprio”, advertiu Josh Homme à Mojo. “Nem toda a gente tem a sorte de ser os Beatles ou os Ramones. Era tempo de olhar a que soávamos”, declarou.
Os Queens Of The Stone Age de “Villains” levam vinte anos de asfalto mas estão mais movediços do que nunca. De pepitas como “3’s & 7’s” e “Smooth Sailing” vinha a prova de um apetite voraz pelas curvas mas nunca como agora se tinham apresentado tão sedutores e atrevidos a fazer rock para suar os pés.
Não se pense, porém, numa operação plástica com perda de reconhecimento facial ou num aburguesamento hollywoodesco destinado a cair nas boas graças dos algoritmos digitais.
Os Queens of the Stone Age ainda não estão em idade de tomar o chá no deserto. E se é a aridez que caracteriza o Mojave, casa-mãe dos estúdios onde a família criada pelos Kyuss grava, é preciso preencher o vazio. Com massa de som, ruído, distorção e êxtase. “Villains” conserva o choque elétrico do rock mas dá-lhe uma forma mais sinuosa. Expande vontades em canções de cinco e seis minutos onde se joga ao espelhos e se brinca às identidades. Retrato de uma banda consciente do tempo que vive e do espaço que ocupa – mas se o rock deixou de ser o que foi, não o deve a eles. E ainda não é desta que irão entregar a alma ao criador.