Um dos seus novos artigos, com o sugestivo título ‘Mortais’, leva-nos agora às interrogações dos atos dos jovens que participaram no terrível atentado de Barcelona. Leva-nos a interpelar-nos acerca da vida e da auto imolação, da brutalidade dos dogmas e da irracionalidade dos atos, da dita pureza religiosa e das razões que os levaram, num instante, e com força e raiva, a rezar «cinco vezes» na direção de Meca. Mas também nos leva a uma interrogação acerca deste tempo, do tempo que vivemos. Das suas incertezas e das suas perplexidades. De alguns outros e novos dogmas e de novas e subtis formas de censura.
Sabemos bem que o tempo é uma palavra. E o tempo é, na verdade, um «contínuo não espacial, no qual os acontecimentos ocorrem numa sucessão aparentemente irreversível desde o passado, através do presente, e agarrando o futuro». Mas o tempo também é a «experiência da duração». E não ignoramos que o tempo é imaterial. Não o vemos, não o ouvimos, não lhe tocamos. Mas sentimos sempre o tempo. Sentimos que podemos ocupar o tempo e passar o tempo ao mesmo tempo. Mas também sabemos que no silêncio não «há afirmativa nem negativa». Por isso importa falar e refletir, dar a cara e assumir combates.
Sabemos bem, de experiência de e da vida, «o tempo vai a passo, mas não descansa, nem dorme». Mas agora que o tempo de férias está a terminar, sabemos bem o que é viajar no tempo e pelo tempo. Percebemos que o Guadiana desagua para a esquerda e do outro lado a vida é diferente, a água um pouco mais quente, que se celebra a ‘siesta’, que os anéis mudam de mão ou, até, que a língua, bem rápida, por vezes se não percebe. E sabemos, desde há muitos anos, que no final de uma linda ponte se chega a outro espaço, a outro território, a uma outra Pátria. Mesmo que sintamos que, por vezes, importa ser, neste tempo, ‘contra as pátrias’! E com a plena consciência que nesta época da internet o passado filtra o presente e temos a impressão que o futuro já aqui está. Mas também, agora atravessando uma fronteira em que só muda a rede de telemóvel, estamos a sentir, e a viver, «o único barco que nos permite navegar pelo rio do tempo». É o que fizemos. E são estas perplexidades que o tempo de férias nos aporta. Já não com os suculentos caramelos de Salamanca mas sim com o preço bem mais baixo da gasolina do outro lado do Guadiana. Com a certeza de que também o IVA, e outros impostos, nos ajudam a sentir o tempo e as suas circunstâncias. Mas com a íntima convicção de que todos temos raízes e elas se moldam, mas não se destroem, com o tempo. Por isso o sentimos. E viajamos com ele.
* Advogado