E pedir «desculpa» não é fácil. Nunca é fácil. Quando alguém se desculpa é porque reconhece que errou e que magoou outra pessoa, ou que a sua atitude teve reflexos negativos nessa pessoa. E reconhecer os nossos erros não é uma atitude que assumamos com facilidade, até por, habitualmente, considerarmos que a razão está (ou deveria estar sempre!) do nosso lado e não do dos outros. A humildade que é preciso ter para reconhecer que não temos razão, e que deveríamos ter procedido de outro modo, é um sentimento, por vezes, difícil de alcançar, por exigir muita maturidade e autoconhecimento.
Pode argumentar-se que é muito fácil pedir desculpa quando, por exemplo, fechamos a porta sem ver que lá vem alguém, quando, num transporte público apinhado, pisamos uma pessoa, ou quando, sem intenção, fazemos algo que magoa alguém fisicamente.
Quando a dor é física, ou quando atuamos sem intenção de magoar, é muito mais simples pedir desculpa. Mas, se a dor é interior, se é uma dor psicológica e, sobretudo, se atuamos de forma consciente, aí, então, é bastante mais complicado reconhecer que devemos pedir desculpa aos outros.
Como disse Cecília Meireles: «É difícil colocar-se no lugar de alguém, assim como é fácil olhar para o próprio umbigo. / Se você errou, peça desculpas… / É difícil pedir perdão? Mas quem disse que é fácil ser perdoado? / Se alguém errou com você, perdoa-o… / É difícil perdoar? Mas quem disse que é fácil se arrepender? / Se você sente algo, diga… / (…) / Nem tudo é fácil na vida… Mas, com certeza, nada é impossível / Precisamos acreditar, ter fé e lutar para que não apenas sonhemos, / Mas também tornemos todos esses desejos, realidade!»
É o pedido de desculpa e a sua aceitação que nos reconciliam com os outros e connosco próprios, que nos tornam, de novo, aptos a recuperar a confiança dessa pessoa, a nos sentirmos melhor connosco e a reatar uma relação de confiança, entretanto quebrada, sobretudo se o que provocámos no outro é como descreve Ana Margarida de Carvalho, em Não se Pode Morar nos Olhos de um Gato: «As ilusões não lhe caíram aos pés como folhas secas, foram arrancadas da haste, ainda verdes e cheias de viço».
Pedir desculpa é, de certa forma, estar pronto para aceitar mais amizade, mais amor.
Maria Eugénia Leitão
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services
