Alemanha. Extrema-direita faz-se ouvir na campanha de Merkel

Roteiro pré-eleitoral da chanceler pelo leste do país marcado pela elevada mobilização dos partidos nacionalistas. Há registo de agressões e de outros atos de intimidação

Alemanha. Extrema-direita faz-se ouvir na campanha de Merkel

Foi ali que nasceu e deu os primeiros passos na política, mas é agora ali que tem pela frente alguns dos seus mais ferozes opositores. Falamos de Angela Merkel, a chanceler da Alemanha que no próximo dia 24 de setembro aponta à reeleição para o cargo que ocupa há três mandatos, e o território em causa é aquele que, entre 1949 e 1990, fazia parte da República Democrática Alemã.

A digressão eleitoral da líder da União Democrata-Cristã (CDU) levou-a, nos últimos dias, ao leste do país, onde foi confrontada com uma mobilização bastante significativa de adeptos do movimento nacionalista e anti-imigração Alternativa para a Alemanha (AfD) e de neonazis do Partido Nacional Democrático (NPD), que têm criado raízes e recolhido cada vez mais apoios na região, alicerçados, em grande medida, na condenação da decisão de Merkel de abrir as portas a perto de 900 mil refugiados.

Na passada terça-feira, em Brandenburg an der Havel, a poucos quilómetros de Berlim, a chanceler teve pela frente uma contramanifestação conjunta AfD-NPD, cujos participantes, entre cânticos insultuosos, apupos e cartazes, fizeram de tudo para perturbar a sua intervenção. Já em Bitterfeld, mais a sul, Merkel foi recebida com bandeiras russas e pedidos de abandono do cargo.

Nada que, aparentemente, pareça estar a levar a líder alemã a afastar-se um centímetro que seja da sua postura de condenação e afastamento da extrema-direita populista. Além de ter voltado a rejeitar liminarmente quaisquer possibilidades de uma aliança política entre a CDU e a AfD – também afastou uma eventual coligação com os esquerdistas do Die Linke – Merkel rotulou o seu roteiro pelo leste alemão como uma “tomada de posição contra a gritaria” ultranacionalista e xenófoba.

 Além dos protestos organizados, há ainda registos de agressões, provocações e tentativas de intimidação por elementos ligados à direita radical, a membros da comitiva da CDU. Na passada sexta-feira, uma jovem assessora democrata-cristã foi parar ao hospital, depois de ter sido agredida em Vacha.

 Angela Merkel foi eleita para o cargo de chanceler em 2005 e procura o quarto mandato consecutivo, num ano eleitoral europeu muito marcado pela ascensão da extrema-direita. O seu grande rival nas eleições federais do próximo mês é, ainda assim, o ex-presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, do Partido Social-Democrata (SPD), cujo regresso à política nacional foi encarado com enorme entusiasmo junto da esquerda alemã, entretanto refreado com derrotas sucessivas para a CDU em eleições regionais – particularmente na superpopulosa Renânia do Norte-Vestefália, em maio.

As sondagens continuam a colocar o partido de Merkel com cerca de 40% dos votos, ao passo que o SPD aponta a não mais que 25%. No próximo domingo há debate entre os dois líderes.