Economia circular. Os portugueses que põem o mundo a girar

 

Fruta Feia. Dar vida ao que ia para o lixo

Mais de 30% da fruta produzida em Portugal é desperdiçada, apesar de ser de boa qualidade. E o único problema destes frutos é não serem perfeitos. Por não terem a cor, o formato e a dimensão ideais são rejeitados por distribuidores e consumidores. O Fruta Feia tem como objetivo canalizar essa parte da produção até ao consumidor que não julga a qualidade pela aparência. “Gente bonita come fruta feia” é o lema de uma cooperativa que, em três anos, já atingiu a meta das 500 toneladas de frutas e hortaliças salvas da lixeira. Começou em Lisboa, já chegou ao Porto e conta com sete pontos de entrega, conseguindo assim chegar a 3 mil consumidores que compram fruta e legumes a um custo mais baixo do que são vendidos nos supermercados.

 

Alive. O festival onde os copos viram mesas de refeição

O Nos Alive do ano passado enviou para reciclagem cerca de 29 toneladas de resíduos e, como era de se esperar, os copos de plástico e as embalagens alimentares são os resíduos mais comuns. Mas como estes números são animadores e correspondem até a um aumento de 31% de lixo enviado para reciclagem em relação a edições anteriores, há que fazer ver os frutos deste trabalho. Este ano, a Sociedade Ponto Verde disponibilizou na área de restauração 54 mesas de plástico reciclado e ainda bancos e ecopontos do mesmo material. Tudo isto feito com o lixo recolhido nas edições anteriores.

 

GoodAfter. A data de validade é só o início

O GoodAfter é o primeiro supermercado português a vender produtos próximos do prazo de validade ou até com essa data já ultrapassada. Para que não haja dúvidas sobre a qualidade, Chantal de Gispert, a criadora do projeto, explica ao i que existe o limite de consumo, indicado normalmente pelas palavras “consumir até” e que corresponde à data a partir da qual os produtos não podem ser consumidos ou comercializados. Trocado por miúdos, fala-se aqui de carne, peixe, iogurtes e todos os outros frescos que, por razões óbvias, não fazem parte do menu da GoodAfter. Já a expressão “consumir de preferência até” abre um leque tal que permite que os armazéns desta empresa do Porto estejam com as prateleiras repletas. Aqui, os descontos podem chegar aos 70%.

 

Eco Copo. Se beber não conduza nem deite o copo ao lixo

Se foi (ou ainda vai) a um festival de Verão, talvez repare em algo de diferente num cenário que, infelizmente, era igual em Paredes de Coura ou na Zambujeira do Mar.  Este ano, o chão de alguns recintos deixou de estar cheio de copos de plástico. Desde o ano passado que a empresa Re-cup é responsável por substituir os copos de ‘usa e deita fora’ por copos que ‘usa e volta a usar’. Em festivais mais pequenos como o OutJazz ou o Brunch Electronik, o cliente compra um copo por um euro e só com ele pode beber nos vários pontos de abastecimento. Nos maiores, como foi o caso do Sudoeste, o sistema é de caução, explica ao i Nuno Melo, responsável pela Re-cup. “O copo custa dois euros e, no final, pode devolvê-lo para receber os dois euros de volta”. No ano passado, quando começaram, estiveram presentes em cinco festivais. Este ano chegaram a doze.

 

Sonae. Eletricidade feita de lixo e fruta transformada em compota

Desde junho do ano passado que a Sonae começou a aproveitar os resíduos orgânicos do seu hipermercado de Gaia para produzir eletricidade para consumo na loja. Ainda está em fase piloto, mas já há números para este projeto: 26 mil euros poupados. Através de um processo chamado digestão anaeróbica, são utilizados microrganismos para decompor os resíduos orgânicos, produzindo biogás, rico em metano utilizado na geração das energias renováveis. Ainda numa de aproveitar o desperdício, a Sonae avançou recentemente com a transformação da fruta e legumes que iriam para o lixo por perderem valor comercial em compotas e chutneys de marca própria.

 

Maria Granel. A pioneira na arte de comprar à medida

Aqui não há prateleiras cheias, sacos de plástico ou carrinhos de supermercado. Há antes dispensadores, sacos de pano e um atendimento personalizado. Eunice e Eduardo abriram a Maria Granel, em Alvalade, por terem como “preocupação assumida há muitos anos” o cuidado com o desperdício. Ao i, referem que são mais de 400 os produtos disponíveis e que podem ir de coisas tão básicas como canela, farinha de trigo ou amêndoas, a produtos mais excêntricos como a farinha de bolota, o chá de caramelo ou a casca de laranja em pó. A premissa é só uma: cada cliente leva apenas o que precisa e, se possível, nos frascos e saquinhos que traz de casa. Além disso, usam as redes sociais para dar dicas sobre o desperdício e organizam workshops gratuitos para ensinar o que é isto de “economia circular”.