Jorge Gabriel. “Lembro-me que fui abençoado com algumas tampas”

Não é de saudosismos, mas recorda com saudades algumas fases da vida. Nos Estivaneios desta semana conversamos com Jorge Gabriel, que recorda as férias do passado, quer as que viveu em família, quer os tempos em que estava com amigos, sempre de olho nas raparigas

O verão é uma estação muito querida para muitos. Quando pensa em verão pensa em quê?

Penso, sem dúvida, em Porto Santo. Tenho cá uma coisa e é onde passo as minhas férias, de há oito anos para cá. Vim cá e apaixonei-me . Tenho muita liberdade e gosto, acima de tudo, da segurança.

Como eram as suas férias quando era mais novo?

Tive férias muito diversificadas. Durante muitos anos as minhas férias foram passadas em Fanhões. Estamos a falar de um sítio onde passei férias até à minha adolescência. Tínhamos lá casa e era onde se juntava a família. No entanto, estávamos um bocado limitados porque a minha tia não queria brincadeiras muito longe da casa, era a forma que tinha de nos controlar. Mas eram férias muito felizes. 

O que mais gostava?

Era fantástico porque estávamos no campo. Até a viagem até lá tinha momentos hilariantes. Lembro-me que fazíamos um jogo que era adivinhar o nome das terras antes de aparecer a placa. Ganhava quem soubesse o nome das localidades seguintes. Mas depois comecei a ter a minha liberdade.

As férias passaram a ser diferentes?

Sim. Ia com os meus amigos para a Costa da Caparica. Como tínhamos a mania de usar rádio, que na altura chamávamos de tijolos, fazíamos disputas musicais dentro dos autocarros. Chegou a acontecer o motorista parar durante o trajeto para nos mandar desligar os rádios porque não se aguentava a barulheira. Ainda por cima, os autocarros iam completamente cheios. Estas eram as minhas férias. Depois, aos 17 anos, comecei a fazer campismo com os meus amigos. Mas depressa me fartei. Havia filas até para ir à casa de banho e não é a minha praia. Mais tarde, houve uma altura em que ia muito para o Algarve.

Mas também se cansou?

Sim, comecei a não ter paciência para pagar muito por coisas tão pequenas como uma garrafa de água. Além disso, era onde todos passavam férias e havia filas para tudo, até para ir a um restaurante. Cansei-me. 

Qual é a memória mais antiga que tem das férias?

Ainda era bebé. Acho que me lembrar de coisas de quando tinha quatro ou cinco anos é sinal de que estou a ficar velho. Lembro-me melhor das coisas mais antigas do que das mais recentes. De qualquer forma, lembro-me de ser pequeno e de estar a passar férias num apartamento em S. João do Estoril. O meu pai sentou-se em cima dos meus óculos de sol e eu chorei não sei quantas horas seguidas porque não ia aguentar o sol sem os óculos. Lembro-me desse episódio porque para mim ter os óculos de sol era quase tão importante como ir à praia. Estava mesmo inconsolável. 

E hoje em dia? Consegue viver sem os óculos de sol?

Hoje já não sou assim porque perco os óculos. Depois fico tão irritado por ter perdido mais uns que passo tempos de castigo e não compro nenhuns. 

Diz-se que, no verão, as pessoas estão mais disponíveis para o amor. Teve algum amor de verão que tenha sido mais importante?

Não, creio que não. Não me lembro de nenhum. Lembro-me de ir passar umas férias a Melides com uma namorada durante o verão, mas ela já era namorada, não foi uma conquista de verão. 

Mas concorda com quem diz que os amores de verão são para ter e para esquecer?

Sim, acho que aquilo é para passar. Acho que é a ideia que todos temos. Mas também admito que exista quem tenha conhecido alguém no verão e tenha mantido uma relação durante muitos anos. 

Sempre foi mais de tentar conquistar ou esperava que alguém tomasse o primeiro passo?

Ia mais à conquista. Mas também acho que socialmente era eu que tinha de dar o primeiro passo. Claro que às vezes corria bem e outras vezes não. 

Levou muitas tampas?

Algumas. Mas tinha amigos que eram verdadeiros profetas. Diziam que iam ter qualquer coisa com determinada rapariga e tinham mesmo. Tinha um, em particular, que era uma verdadeiro John Travolta. Mas era mesmo a maneira de ser dele. Se algum de nós tentasse fazer a mesma coisa, não conseguia nada. Ele conseguia sempre. 

Lembra-se do primeiro desgosto de amor que teve ou da primeira tampa que levou?

Da primeira tampa que levei, não me lembro. Mas lembro-me que fui abençoado com algumas. Claro que todas elas, à sua maneira, são traumáticas. Mas, se corria mal, seguia em frente. Tentava deixar para trás das costas. Aliás, sempre fui assim em tudo, quer na vida pessoal como na profissional. Não sou de ficar preso a coisas que não funcionam. 

Tinha algum truque quando queria conquistar alguém?

As estratégias eram sempre adaptadas ao alvo. Acho que faz parte. Caso não fosse assim, aumentavam as hipóteses de não conseguir ser bem sucedido na tentativa.

Falava com os amigos sobre as táticas?

Sim, claro. Como as raparigas também fazem. Mas muitas vezes acontecia tentarmos o estilo uns dos outros e não funcionava. 

Sempre foi mais de grandes amores ou de grandes paixões?

Não sei. Tive o meu tempo das grandes paixões e de grandes amores também. Mas também me aconteceu as grandes paixões passarem a ser grandes amores. Foi assim na maioria dos casos. 

Lembra-se do primeiro amor que teve?

Lembro. Devia ter 18 anos quando tive o primeiro impacto. Ela morava perto de mim, a apenas algumas ruas de distância. Eram mais ou menos uns dez minutos a pé. Fiz tantas vezes aquele caminho a pé. Bem tentei, mas não aconteceu nada. Depois comecei a trabalhar e passou-me. Troquei uma paixão pela outra. Apaixonei-me pela rádio. 

E a primeira grande paixão?

Acho que a maior paixão que nos fica na vida é pelos pais e pelos filhos. De resto, as pessoas mudam; os casais têm períodos em que fazem escolhas que por vezes levam à rutura. Acho que agora andamos todos menos tolerantes. As pessoas livram-se das dificuldades à primeira. Não estamos preparados para enfrentar as coisas. Além disso, é preciso conhecer bem a outra pessoa antes de dar qualquer passo e as pessoas, às vezes, não fazem isso. 

Se pudesse fugir, ia para onde?

Vinha para Porto Santo. É o local onde me sinto mais em paz. Era capaz de viver aqui. Sou muito feliz aqui e desconfio que um dia é para aqui que me vou mudar. 

E quem mandava para uma ilha deserta tendo a certeza de que a pessoa não podia voltar?

Enviava o Trump e o senhor da Coreia do Norte [Kim Jong-un].

Como reagiu quando soube que o Trump era presidente dos EUA?

Não posso dizer que tenha ficado muito surpreendido. Tinha falado com uns amigos umas semanas antes e já considerávamos essa hipótese. O que me surpreendeu foram os resultados de alguns dos estados. 

Discute mais política ou futebol?

Gostava de discutir mais futebol. Mas cada vez vejo mais golfe e jogo mais golfe. Tenho procurado outros desportos. Gosto que o Sporting ganhe e sou amigo do treinador [Jorge Jesus], mas o que se vive em torno do futebol é complicado. Acho que os portugueses ainda não perceberam que os campeonatos são ganhos por apenas um clube. 

Qual foi a viagem mais louca que fez?

Ainda não fiz a minha viagem mais louca. Mas quero muito ir à Austrália e ao Japão. Mas há mais viagens que gostava de fazer. Gostava muito de ir com a mochila às costas à Islândia. É uma das viagens que mais quero fazer. Sinto que aquilo é o âmago do planeta. 

Mas já alguma vez pensou em largar tudo e embarcar no primeiro avião?

Já me apeteceu fazer isso várias vezes. Quando trabalho com incompetentes, fico com essa vontade. É insuportável conviver com quem não merece o nosso tempo. 

Que sonhos tem por realizar?

Gostava de ter um meio de transporte mais barato para viajar até Porto Santo. De resto, tenho mais de 900 sonhos por realizar. Tenho tudo por fazer. Em televisão, há imensas coisas que podem ser feitas e uma das coisas que mais me incomoda é a desculpa do dinheiro. Acredito que muitas vezes não haja dinheiro, mas também acho que em muitos casos o que falta é a vontade de arriscar. 

O que sente quando vê a RTP Memória?

Sinto que a RTP tem feito um excelente trabalho.

É saudosista?

Sou saudosista em relação a alguns momentos felizes que tive. Lembro-me muito dos meus primeiros anos na SIC. Não havia limites para o sonho. Também tenho saudades de jogar à bola com os meus amigos. Ainda me lembro dos golos que marquei. A verdade é que as aulas apenas aconteciam no intervalo dos nossos jogos de futebol. Quando era mais novo queria ser jogador de futebol. Mas depois surgiu a paixão pela rádio e descobri que gostava de comunicar. 

De que tem mais saudades?

Tenho saudades do tempo em que não tinha contas para pagar. Quando era mais novo não tinha este sufoco, a minha única prioridade era alimentar os meus sonhos e sinto saudades desse tempo. 

Quando teve a primeira sensação de finitude?

O meu primeiro contacto com a ideia da morte aconteceu quando ainda era muito pequeno, mas foi uma coisa que superei em dez minutos porque decidi que tinha de aproveitar a vida.