Começo a ficar ligeiramente farto de escrever o obituário político de Pedro Passos Coelho. Deve ser uma espécie de batismo no jornalismo contemporâneo: um tipo tem que matar Passos pelo menos uma vez. E, mea culpa, já o fiz.
Ora reveja-se, desde o início: (1) Passos Coelho foi eleito líder do PSD e já estava logicamente morto – tinha que vencer Sócrates (esse eterno) e não tinha qualquer experiência executiva – mas ganhou; (2) Passos Coelho foi eleito primeiro-ministro e estava novamente morto – a troika vinha aí e nunca uma coligação cumprira mandato completo –, mas ele aguentou; (3) Passos Coelho vai a legislativas contra António Costa e lá o matámos outra vez – era impossível vencer os anos de austeridade e um candidato como Costa – mas ele venceu.
Assim é com o período antes destas autárquicas, em que Passos «não sobreviveria na oposição», com a previsão do congresso do próximo ano contra Rio, que é outro opositor «invencível» como Costa não foi em 2015, e até na antevisão das primeiras legislativas da direita contra a ‘geringonça’, em 2019.
«Passos Coelho sairá inevitavelmente da liderança do PSD» depois de perder, já se escreve, para daqui a dois anos.
Mas sairá mesmo?
Faço, por isso, uma sugestão a todos aqueles que, como eu, assinaram o fim da carreira política de Passos Coelho nos últimos tempos e falharam redondamente: esperem. É que sete anos depois ele continua cá.
Aquilo que Costa deixou bem claro com o discurso na rentrée do Partido Socialista foi que as suas fraquezas de 2015 serão as suas fraquezas em 2019, tratando-se de um péssimo político de estrada. É ótimo na manutenção do poder, como se tem visto, mas fraco na campanha por ele, como ainda dá para ouvir.
Acusar Passos de dizer o que não disse sobre os bombeiros e tratar uma política por «aquela senhora» serviu como útil nostalgia da campanha em que não ganhou à coligação PàF. E daqui a dois anos terá que regressar à mesma estrada.
António Costa teve a inteligência eleitoral e o pulso interno para deixar o partido renovar e pluralizar – da ala mais eurocética de Pedro Nuno Santos à ala menos socialista de Fernando Medina –, que é algo que Passos Coelho não fez no PSD, mas há outro ponto que não deixa de fazer sentido em retrospetiva: quando Portas e Passos governavam com António José Seguro na oposição, ninguém à direita batia tanto no secretário-geral do PS quanto hoje a esquerda bate no presidente do PSD.
Porque será? Se se deixava estar Seguro por ser uma oposição tranquila para a direita, porque não oferece a esquerda essa tranquilidade a Passos Coelho? O que receiam?
P.S. – Esta semana, Aníbal Cavaco Silva regressou à praça pública para dar uma aula na universidade de verão da Juventude Social Democrata. Durante essa hora, Portugal voltou a ter Presidente da República. Confesso que quase me esquecera da sensação.