Se ainda restavam dúvidas sobre a caducidade do “efeito Schulz”, elas ficaram desfeitas ontem à noite. Noventa e sete minutos volvidos do primeiro e último debate televisivo entre os dois principais candidatos ao cargo de chanceler da Alemanha, a comunicação social alemã e o público eram unânimes em apontar o vencedor da contenda: a atual detentora do cargo, Angela Merkel.
A onda de entusiasmo que se criou em janeiro, em volta do candidato pelo Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz, há meses que mostrava sinais de refreamento – com derrotas sucessivas para a União Democrata-Cristã (CDU) em eleições regionais – e ontem confirmou-se que está em aparente estado de estagnação, ao ponto de o site Politico defender que o socialista está a lutar pela sua sobrevivência à frente do partido, e não propriamente pelo cargo de líder do governo alemão.
De acordo com uma sondagem realizada pela estação televisiva ARD, após o debate, 55% dos participantes vê na atual chanceler – que já partira para o debate com uma vantagem entre 15 a 17 pontos percentuais sobre Schulz – a candidata mais forte, contra os 35% que apostam no ex-presidente do Parlamento Europeu. Se tivermos em conta que, antes do debate, 1 em cada 5 dos 60 milhões de eleitores alemães admitia que o confronto televisivo iria ser decisivo para decidir em quem votar, poucas dúvidas restam sobre quem é o favorito à vitória nas eleições federais do próximo dia 24 de setembro.
Embora o debate tenha sido dividido pela discussão de quatro grandes temas – migração, política externa, segurança e justiça social –, a decisão de Merkel de abrir as fronteiras a perto de 900 mil refugiados recebeu especial atenção dos candidatos. Schulz acusou a chanceler de não se ter esforçado por envolver os restantes parceiros da União Europeia nessa decisão e Merkel voltou a garantir que, mesmo tendo cometido alguns erros, voltaria a fazer o mesmo. “Que deveria ter feito? Despejar canhões de água contra milhares de pessoas?”, questionou a líder da CDU.
Os dois candidatos voltaram a chocar na hora de debater o aumento do orçamento de Defesa – Merkel aprova a medida e Schulz reprova –, bem como quando instados a falar sobre justiça social. O líder do SPD acusou a chanceler de ignorar o aumento cada vez maior dos custos de vida na Alemanha, nomeadamente na habitação, e lamentou que os salários não estejam a acompanhar essa tendência. Merkel fez-se valer do bom desempenho económico alemão dos últimos anos e dos níveis históricos de empregabilidade para contrariar a argumentação do seu adversário. “É óbvio que a Alemanha é um país rico, mas nem toda a gente está bem”, acabou por aceder um inconsistente Schulz.
No que toca a política externa, e embora tenham concordado que atualmente não é seguro para os cidadãos alemães viajarem para a Turquia, os candidatos optaram por abordagens diferentes nas relações com Ancara. Schulz quer um endurecimento manifesto no relacionamento com o país de Recep Tayyip Erdogan, ao passo que Merkel aposta numa política de aproximação e diálogo, que possa ajudar à resolução das recentes disputas entre os dois Estados.
O bom desempenho da chanceler no debate deixa-a com via aberta para vencer as eleições do final do mês, ficando apenas por saber – consoante os desempenhos de SPD, FDP e Verdes – com quem formará governo. A líder da CDU e o candidato do SPD concordaram em variadíssimas questões no debate de domingo, pelo que uma renovação da atual solução governativa não está totalmente posta de parte.