O primeiro dia de escola

O primeiro dia de escola dos filhos é um dos mais difíceis da vida dos pais. Principalmente das mães, que desde a gravidez vivem com as emoções à flor da pele. 

Habituadas a ter o filho em casa, ou na de alguém próximo, um estranho dia de manhã vão, de coração numa mão e o rebento na outra, deixá-lo nos braços de quem começará também a ocupar um papel crucial na sua ainda muito curta vida. É sempre alguém simpático, que conhecemos umas semanas antes, numa conversa que gostaríamos que tivesse demorado mais.

Dependendo da idade e da escola há um tempo de habituação da criança, e nosso, a um contexto totalmente novo.Até que chega a altura. Temos mesmo de a deixar. Satisfeita ou a chorar, chegou a hora de sairmos e de a entregarmos a este seu novo pedacinho de mundo.

É duro, o fim de um namoro exclusivo e o início de uma longa e frutuosa caminhada.Sentimos um total silêncio e vazio por dentro. Parece que fomos sugados. As ruas estão vazias como se todos tivessem ficado naquela sala. Até que, quando menos esperamos, a vida da cidade vem para nos acolher. Sons da rua em que não reparávamos há muito tempo surgem com maior fulgor.

Principalmente para quem ficou aqueles meses ou anos em casa com o filho.Desde que nasceu, toda a atenção esteve centrada nos risos, nos apelos, nos choros, no palrar, no falar e em cada conquista de quem vimos crescer a cada minuto. Agora de repente voltamos a estar sozinhos e a vida lá fora volta para nos receber.Geralmente o primeiro dia de escola corre bem.

Os mais bebés têm, ou deveriam ter, tempo para se habituarem ao seu ritmo. Os mais crescidos vão cheios de curiosidade e passam o dia entusiasmados com todas as novidades. Novidade, muitas vezes, é também, saber que voltam no dia a seguir, e nem sempre o segundo dia corre tão bem.

Com a entrada na escola, o nosso filho deixa de ser só nosso. Passa a ser também das educadoras, do pessoal da escola, dos amigos, dos pais dos amigos… Inicia uma descoberta do mundo que vai muito para além de nós. Penso que é isto também que tanto custa aos pais. Nem sempre é fácil sentir um filho crescer, e que o nosso papel, em certa medida, além de menos importante, é também substituível.Ao contrário do que algumas pessoas defendem, tenho a certeza de que, até certa altura, aquele bebé que nasceu de nós nos pertence.

Cabe-nos depois ter o respeito, a coragem e o amor de lhe permitir, com o tempo, passar a ser dono de si próprio. Ser livre de descobrir o seu caminho, com as suas escolhas, os seus desejos e a sua vida. Nós ficaremos sempre a apoiá-lo, como nos primeiros passos.De qualquer forma, depois deste primeiro dia de escola, quando o formos buscar, ainda seremos quase só um do outro, e a melhor coisa que os mais pequenos poderão receber é o nosso grande e quentinho abraço. E nós o deles.

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