O ténis que conhecemos está em perigo devido a uma série de experiências levadas a cabo pelas organizações que dirigem a modalidade, no sentido de encurtar o tempo de cada encontro.
Qual a razão? A necessidade de manter os elevados níveis de audiências televisivas e transmissões online.
Uma das medidas consiste em afixar um cronómetro no campo, para, em contagem decrescente de 25 segundos, limitar o tempo dos jogadores entre o fim de um ponto e o início de outro.
O ‘Serve Clock’ ou ‘Shot Clock’ combate os tempos mortos em que um jogador pede a toalha, olha demoradamente para as bolas, encena uma coreografia de rituais e superstições, algumas ridículas, com o objetivo de se reconcentrar.
No Open dos Estados Unidos o cronómetro está a ser experimentado nas fases de qualificação e nos torneios de juniores, veteranos e cadeira de rodas. Para já ficaram de fora os mais importantes quadros de singulares e de pares.
Acredito que se a medida for implementada, não levará muitos anos a que os jogadores deixem de ligar ao relógio no campo. Alguns dos mais velhos nunca se adaptarão, mas daqui a uns tempos já nem jogarão.
Mas estou seguro de que também nunca mais veremos aquela final de 2012 do Open da Austrália em que Novak Djokovic derrotou Rafael Nadal por 5-7, 6-4, 6-2, 6-7 (5/7) e 7-5, após 5 horas e 53 minutos, a mais longa final de sempre de um Major.
Não é humanamente possível. O controlo rigoroso dos 25 segundos combate a diversidade de estilos e favorece claramente um tipo de ténis mais rápido, mais instintivo, de pontos mais curtos, que também tem a sua beleza (veja-se Roger Federer).
«O que querem os fãs? Pontos curtos em que os jogadores nem pensam e arrisquem muito? Então o relógio poderá ser bom. Mas se querem daqueles duelos que tive com o Novak, com o público mais envolvido pela duração dos pontos… bem, então não é possível ter pontos de 50 pancadas e esperar que os jogadores estejam prontos em 25 segundos», disse Nadal há uma semana.
Pergunte-se a quem viu essa final se recorda quantas vezes Nadal puxou as cuecas ou Djokovic bateu a bola no chão antes de servir. Irrelevante não é?
Agora pergunte-se se gostou da final. «De longe o melhor encontro que vi», disse Pete Sampras. «O melhor a que assisti na vida», acrescentou Boris Becker. «O melhor de sempre do ténis masculino», opinou Andre Agassi. «Nunca vi nada assim», declarou John McEnroe.
O problema é esse – um dia poderemos nunca mais ver nada assim. Confio mais no bom senso de um árbitro do que na ditadura de um relógio.