Num relatório de 63 páginas publicado esta quarta-feira, a Human Rights Watch acusou o presidente do Egipto, Abdel Fatah Al-Sisi, de ter autorizado a polícia e os agentes de segurança nacional a usarem métodos de tortura.
Segundo o mesmo relatório, as detenções arbitrárias, os desaparecimentos e torturas contra dissidentes pelas autoridades estão a tornar-se cada vez mais comuns. Entre as técnicas de tortura referidas inclui-se a das "linhas de montagem", com espancamentos, choques elétricos, posições de stress e, por vezes, violações. Estes crimes são classificados pelo direito internacional como crimes contra a humanidade, a que se soma o facto da Constituição egípcia proibir atos de tortura.
"O presidente Al-Sisi deu efetivamente luz verde aos polícias e oficiais de segurança para usarem tortura sempre que quiserem", afirmou categoricamente Joe Stork, diretor da Human Rights Watch para o Médio Oriente. "A impunidade pelo uso sistemático de tortura deixou os cidadãos sem esperança na justiça", acrescentou.
"A procura de estabilidade política a qualquer custo por Al-Sisi concedeu à principal instituição de segurança doméstica do país, o Ministério do Interior, mão livre para perpetuar os mesmos abusos que alimentaram a revolta de 2011", lê-se no relatório da organização de defesa dos direitos humanos. Desde 2013 que as autoridades egípcias já prenderam mais de 60 mil pessoas, levando milhares a julgamentos militares e condenando centenas à pena de morte. Suspeita-se que muitos tenham mesmo desaparecido às mãos das autoridades.
Em julho de 2013, o general Abdel Al-Sisi, chefe das forças armadas, liderou um golpe de Estado para depor Mohammed Morsi, líder da Irmandade Muçulmana e presidente eleito no seguimento das revoltas populares conhecidas por Primavera Árabe. Al-Sisi procedeu à ilegalização da Irmandade Muçulmana e à detenção e julgamento dos seus membros por todo o país. Consigo na presdiência o poder voltou a estar sob controlo dos militares, tal como já se verificava com o ditador Hosni Mubarak, que permaneceu no poder durante três décadas, até ser deposto em 2011.