Centenas de curdos britânicos protestaram ontem na Defence and Security Equipment International (DSEI), a maior feira de armas no Reino Unido, para exigirem que Theresa May, primeira-ministra britânica, pare de vender equipamento militar à Turquia. Os manifestantes alegam que as armas serão usadas para reprimir tanto o povo curdo que defende a autonomia na Turquia como os curdos que, apoiados pela coligação internacional liderada pelos Estados Unidos, combatem o Estado Islâmico na Síria.
"Ao armar a Turquia, Theresa May está a minar a coligação internacional que apoia os curdos e que resiste ao Estado Islâmico", disse Dilar Dirik, estudante curdo de doutoramento em Sociologia ao The Guardian. "A venda de armas é uma das principais razões de deslocamento, guerra e opressão no mundo e o Reino Unido é cumplice", denunciou.
Opinião partilhada por Ojan Kocgiri, contabilista curdo de 26 anos que recebeu asilo no Reino Unido com o estatuto de refugiado político na década de 90. "Viemos para este país para fugir das bombas e agora essas mesmas armas que foram usadas para nos atacar estão a ser exibidas na minha porta. Deixa-me doente", confessou.
Em junho, Recep Tayyip Erdoğan, primeiro-ministro turco, declarou que pagaria "o preço que fosse necessário" para impedir quaisquer tentativas dos curdos de estabelecerem um "Estado curdo" na fronteira sul da Turquia.
May tem sido uma das principais apoiantes da venda de material bélico à Turquia, cuja delegação se encontrará entre as maiores que visitarão a feira esta semana. Nos últimos anos, o governo britânico despendeu tempo, dinheiro e recursos a cortejar os líderes turcos para lhes vender armamento. Em janeiro, May assinou dois negócios milionários (um de 100 milhões de libras (109 milhões de euros) de venda de caças e outro de 50 milhões de libras (54 milhões de euros) de venda de armas de todo o tipo) com a Turquia, alguns meses depois do governo de Erdogan ter reprimido grupos da oposição, gerando críticas da comunidade internacional.
Os palestrantes das conferências que a feira organiza incluem Michael Fallon, ministro da Defesa Britânico, e Liam Fox, ministro do Comércio Internacional, bem como outros membros do executivo de May.
A DSEI espera receber mais de 34 mil visitantes, incluindo delegações de regimes acusados de abusos de direitos humanos, como a Arábia Saudita e Bahrein, para além das dez maiores empresas do mundo de venda de armas.