Centenas de milhares de franceses protestaram esta terça-feira contra a reforma laboral que Emmanuel Macron brandiu ao longo da campanha e com a qual o presidente francês pretende facilitar despedimentos e contratações, aumentar as horas de trabalho e permitir aos patrões uma via direta de negociação com os trabalhadores sem o dedo dos sindicatos.
Em Paris marcharam mais de 60 mil pessoas e a polícia – como é habitual em França – acabou o dia a disparar gás lacrimogéneo contra grupos mascarados e vestidos de negro. Em todo o país, nas mais de quatro mil greves convocadas pela segunda maior central sindical francesa, protestaram entre 223 mil pessoas, nos números do governo, e cerca de 400 mil, segundo a Confederação Geral de Trabalhadores (CGT).
Esta terça-feira foi o primeiro grande dia de contestação contra o novo presidente francês, mas isso não quer dizer que Emmanuel Macron tenha saído mal na fotografia. É que, ao longo das negociações, as outras grandes associações sindicais acabaram por aceitar acordos e só mesmo a CGT decidiu partir para a luta nas ruas.
E os números demonstram-no, muito inferiores aos que se registaram em 2016, quando os sindicatos se uniram contra o antecessor socialista de Macron, François Hollande, e a sua lei do trabalho. Em Paris, no ano passado, manifestaram-se 100 mil pessoas contra Hollande.
Também esses protestos foram mais violentos que os desta terça-feira, a que o “Le Monde” chamou “festivos”.
Os “preguiçosos”
Contra a sua vontade, Emmanuel Macron ajudou a dar um nome aos manifestantes quando, na semana passada, prometeu resistir aos “preguiçosos, aos cínicos e aos radicais”.
Essa palavra – preguiçosos – rapidamente alastrou entre os manifestantes. “Exausta, zangada… mas não preguiçosa”, escreveu num cartaz Valérie, uma assistente de cuidados médicos com 50 anos que esta terça dizia estar preocupada com a desregulação do mercado de trabalho francês.
“Não estou contra as reformas por si mesmas”, contava ao “Guardian”. “Mas não queremos que as proteções sejam retiradas às pessoas que se vêm obrigadas a ter empregos com salários baixos e precários, tal como acontece no Reino Unido e na Alemanha. Os meus avós e bisavós lutaram para terem segurança social, em nome dos direitos que agora nos estão a ser levados. Trata-se de proteger o modelo social francês!”
A reforma laboral de Macron é especialmente controversa nas alterações que faz às indemnizações em caso de despedimento sem justa causa. Se a legislação for aprovada – ainda tem de passar por conselho de_ministros, que se reúne no dia para o qual a CGT marcou novos protestos, e depois pelo parlamento –, estes pagamentos passam a ter limites.
Se um trabalhador estiver há menos de dois anos numa empresa, não receberá mais de um mês de salário como indemnização. E se lá estiver 30 anos receberá, no máximo, 20 meses de salário.