Mais de dois meses depois de ter sido detetado o desaparecimento de material militar dos paióis de Tacos, ainda não é possível dizer, com certeza, o que terá acontecido aos explosivos e granadas que, segundo os especialistas, são suficientes para deitar um prédio abaixo ou fazer explodir viaturas blindadas.
A hipótese de roubo foi assumida imediatamente como sendo a mais certa, apesar de, já na altura, vozes como a de Vasco Lourenço apontassem noutras direções. O coronel acredita que o desaparecimento do material não aconteceu num assalto, mas sim numa encenação feita para derrubar o governo.
Agora, é o próprio ministro da Defesa a admitir a possibilidade de não ter existido furto. Azeredo Lopes disse, em entrevista ao DN e à TSF, que “por absurdo podemos admitir que o material já não existisse”. Lembrando que o caso ainda está sob investigação, admite que “no limite, “pode não ter havido furto nenhum”, porque “não existe prova visual, nem testemunhal, nem confissão”.
“Estamos a falar então”, nas palavras de António Mota, presidente da Associação dos Oficiais das Forças Armadas , “de uma alucinação coletiva”. O tenente-coronel acredita que as declarações do ministro não foram ditas em vão e admite que “se ele disse é porque sabe”, até porque falamos de “um mestre da comunicação”, que “sabe que as suas palavras têm repercussões.
E não é que o presidente da AOFA tome uma posição muito distante da de Azeredo Lopes. Em declarações ao i, António Mota lamenta apenas os “efeitos colaterais” que todo o caso provocou na imagem pública das forças armadas.
Já na altura em que foi detetada a falta de material, a associação dos oficiais das forças armadas tinha falado noutras hipóteses que não passavam por um assalto. “Essa seria a mais humilhante, porque punha em causa a capacidade de trabalho do exército”, garante. Para António Mota, existem outras duas opções em cima da mesa. Uma delas passa pela hipótese de o material nunca ter dado entrada nos paióis, “o que seria grave”, considera. Mas aquela que defende como teoria mais provável é a de ter havido um erro na descarga de material.
“O exército passa o tempo todo em exercícios, para os quais precisa de material. Basta que depois de um dia de trabalho, na hora de guardar o material que sobra, não tenha sido feito o abate do que foi gasto para os números não baterem certo”, explica. Trata-se aqui de um “erro humano no acerto do stock”, que pode não ter sido detetado imediatamente.
Para o presidente da AOFA, esta seria a teoria mais “tranquilizadora”, uma vez que significaria que “o material tinha sido efetivamente usado e não estaria agora em mãos de alguém que o possa usar de forma errada”.
reações
O PSD e o CDS-PP exigiram que o ministro da Defesa preste mais esclarecimentos na comissão parlamentar da especialidade sobre o desaparecimento de armas dos paióis militares em Tancos. Assunção Cristas considera que a postura do ministro “não é admissível”.
Também o Bloco de Esquerda se mostrou favorável a novos esclarecimentos do ministro. “Não podemos ter o Governo a dizer que não sabe se existiu ou não roubo em Tancos”, disse a coordenadora do BE, Catarina Martins.
Fonte do gabinete do governante disse à Lusa que Azeredo Lopes irá “naturalmente” ao parlamento “se vier a ser convidado para tal”.