Há muito contra os planos dos independentistas catalães. Não parece haver hipótese de observadores internacionais validarem um referendo proibido pela Constituição de Espanha e contra o qual o governo de Madrid já mobilizou a polícia. A dar-se a consulta, coisa já de si improvável, dificilmente haverá material para todos os locais de voto na região e com mais dificuldade ainda conseguirá a frente independentista colocar urnas em localidades controladas por forças políticas contrárias à consulta, como é o caso do PSOE. E, no entanto, como se começa a argumentar, a própria derrota do referendo pode ser a grande vitória que procuram Puigdemont e a sua aliança.
“O objetivo final dos soberanistas catalães não é a consulta em si mesma, mas a independência da Catalunha”, lembra o articulista Jordi Juan, no jornal “La Vanguardia”, onde defende a ideia de que os mobilizadores do referendo de 1 de outubro sabem que ele está condenado e o querem acima de tudo como alavanca moral, uma forma de demonstrar que o governo de Rajoy é “um sujeito passivo e antidemocrático”. Isso explica, jogar com o maior trunfo na longa caminhada independentista da Catalunha: se é verdade que o apoio à independência tem vindo a oscilar ao longo dos anos – e o “não” parece hoje estar em vantagem –, o apoio a um referendo vinculativo é inegável e ronda os 70 a 80% de apoio.
A estratégia pode não ser esta, mas a verdade é que já está a resultar: no fim de semana, a Guarda Civil fez uma rusga ao semanário “El Vallenc”, procurando material para o referendo que julgava lá estar a ser preparado à revelia das ordens de Madrid e no exterior dos gabinetes juntaram-se dezenas de pessoas em protesto.