Esta frase, que encontrei perto do Jardim da Estrela, é curiosa, pois, ao garantir que «haverá sempre amor na sala», deixa no ar a dúvida sobre de que sala se trata. Da sala de casa de quem escreveu a mensagem, da sala de aulas, da sala de espera de um consultório, da sala de casa de quem lê esta frase?
Seja em que sala for, uma certeza nos é dada – «haverá sempre amor». E é com esta certeza que temos de encarar a vida. E, esperemos, que possa ser nossa esta vida…
Esta frase afigurou-se-me ternurenta porque me parece que a mensagem se dirige a alguém em especial e que essa pessoa tem muita sorte não só por ter a seu lado alguém que gosta muito dela, ao ponto de escrever na rua aquela mensagem, mas sobretudo porque pode ter a certeza de que, em casa, na sala, haverá sempre amor à sua espera – o tipo de amor a que se refere Vinicius de Moraes: «Maior amor nem mais estranho existe / Que o meu». E ter esta certeza é já meio caminho andado para se ser feliz.
Curiosamente, muitas das frases inscritas na rua são declarações de amor. E tenho visto declarações muito bonitas, algumas das quais tenho partilhado.
Estar muito apaixonado leva, por vezes, a atos destes, a querer dizer a todos que se está em estado de encantamento, que a felicidade é demasiado avassaladora para caber dentro do peito. E o amor é um dos sentimentos que parece não caber no peito, que necessita de ser partilhado, que parece sufocar se não for «cantado» aos quatro cantos e gritado aos quatro ventos…
Para quem não conhece os envolvidos e, de fora, lê este tipo de mensagens, elas parecem a expressão extrema de um sentimento que muitos de nós guardamos na intimidade – dos nossos corações, das nossas vidas, das nossas salas. Mas também gostamos de ver expostas estas declarações e, por vezes, até gostaríamos de ser nós o destinatário destas mensagens. Ter alguém na vida que nos dê esta importância e nos dedique estas mensagens é sentirmo-nos o centro da vida de alguém, é sentirmos o conforto que isso nos dá, é tornarmos a vida relevante. Mesmo que o amor não seja o mais belo ou, como diz Adélia Prado, seja «feinho»: «Amor feinho é bom porque não fica velho. / Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é: / eu sou homem você é mulher. / Amor feinho não tem ilusão, / o que ele tem é esperança: / eu quero um amor feinho.»
Pessoas há que são capazes de gostar de mais de uma pessoa ao mesmo tempo e espalhar o seu amor, contribuindo, assim, para a felicidade de muitas pessoas. Há, mesmo, quem não seja esquisito e goste de todo o tipo de mulheres. Bonitas.
Escrito em parceria com o blogue da Letrário, Translation Services