Manchester entre vermelho -diabo e azul-céu

Há várias épocas que os adeptos de United e City desejam uma luta entre ambos pelo título inglês. Este ano começaram ombro a ombro.

De algumas épocas para cá, os ‘mancunian’ vivem a esperança de verem os dois gigantes de Manchester baterem-se ombro a ombro pelo título inglês, ainda que quando falamos de gigantismo haja que estabelecer, inevitavelmente, ordens de grandeza.

Sobretudo desde que José Mourinho tomou conta do United e Pep Guardiola assinou como treinador do City, as expectativas subiram em flecha. Só que o futebol não se compadece com sonhos. A realidade tem sido bem diferente e um surpreendente Chelsea, com o italiano Conte ao volante, saiu disparado na frente para dominar a última edição da Premier League.

2017/18 assistiu a um aumento das expectativas. Primeiro porque tanto os Reds Devils como os Sky Blues – e não deixam de ser curiosas estas denominações que metem inferno e céu – voltaram a estoirar dinheiro em barda em contratações, reforçando inequivocamente os seus plantéis. Depois porque iniciaram as primeiras jornadas numa passada idêntica, estando, para já, à mesma velocidade um do outro.

Macunianos pode ser uma boa tradução para esses tais ‘mancunian’ de que falámos a início. Demarca os habitantes daquilo a que os ingleses denominam pela Grande Manchester e até é um idioma local.

Dizem os estatísticos que nesta coisas de rivalidade entre Manchester United e Manchester City, as coisas se aplicam mais aos sentimentos dos adeptos do que verdadeiramente à história dos clubes em questão, bem mais rica a do United, como sabemos, menos brilhante a do City que viveu muitos anos de secundarização evidente. Mas também é certo que, se tivermos em conta que o primeiro jogo entre ambos vem lá da memória perdida do ano de 1881, quando nem sequer havia United nem City e sim os clubes dos quais vieram a ser herdeiros, o Newton Heath e o St. Mark’s, respetivamente, sobra uma boa dose de respeito.

Ou seja, rivais antes de existirem como são. É de estalo!

O Manchester City, antes de se tornar realmente Manchester City – e isto aconteceu em 1894 – ainda teve outro nome, Ardwick Association Football Club, que sucedeu ao tal St. Mark’s que, por seu lado, era acrescido de um West Gorton, algo que lhe dava, convenhamos, um tique de certa nobreza.

Nesse final de século, disputava-se com a frequência que as condições permitiam, uma competição chamada Manchester Cup. O Manchester United – que adotou este nome em 1902 – foi como já vimos Newton Heath e, como foi fundado por trabalhadores dos caminhos de ferro da região (é extraordinário perceber a quantidade de clubes espalhados por todo o mundo que foram criados por gente ligada aos comboios), levava inicialmente as iniciais LYR antes do Football Club – isto é, Newton Heath Lancashire e Yorkshire Railway Football Club.

Newton Heath e St. Mark’s West Gorton trataram de dominar por completo essa Manchester Cup. Não admira que tenham ficado para sempre de lados opostos da barricada.

II Grande Guerra

Vamos dar um salto no tempo, até porque não era intenção desfiar aqui uma espécie de teoria geral da vida atribulada dos dois clubes de Manchester.

Pode dizer-se que esse «fel de irmãos» de que falava Pittigrilli, se introduziu profundamente no seio dos fãs dos clubes a partir da II Grande Guerra. E, embora em número de simpatizantes, o City nada deva ao United, sendo até, dentro dos limites da cidade, mais popular do que o rival, que por seu lado ganha no resto da Inglaterra, os Diabos Vermelhos foram acumulando títulos que deixaram os Celestes para trás.

Nos anos 50, Matt Busby lançou as raízes do grande United europeu que soube crescer a despeito da Tragédia de Munique de 1958. Em Wembley, dez anos mais tarde, torna-se o primeiro clube inglês – e o segundo britânico depois do Celtic – a ganhar a Taça dos Campeões, à custa do Benfica.

Quanto ao City, teve de esperar mais dois anos para conquistar um troféu continental, a Taça dos Vencedores de Taças, entretanto extinta, em 1970. Seria a década de ouro da vida do clube que, em seguida, atravessaria um deserto bisonho até ser, já nos tempos modernos, resgatado por investimentos do extremo e médio-oriente.

Para a par na liderança da Liga Inglesa, pode ser que seja esta a época da Grande Batalha de Manchester. Mourinho e Guardiola seriam os primeiros a apostar nisso… Resta saber o que pensam Conte e Klopp.