É um evento italiano, mas é a Portugal que cheira a entrada do pavilhão número seis daquela que é a maior feira internacional de calçado do mundo. A Micam abriu portas no sábado e termina hoje, mas o presunto e as garrafas de vinho do “senhor Moreira”, indicavam não ter fim à vista.
Para Milão, o senhor Moreira, como todos lhe chamam, trouxe uma mala só com enchidos, copos e vinho. Até frigorífico tem instalado dentro do minibar que criou dentro do “stand” da sua empresa, a Felmini. Antes de ser sapateiro só se dedicava à produção de botas, até que as “modas chegaram” e teve de se adaptar aos sneakers. Enquanto lamenta ter descoberto que um empresário chinês lhe roubou a identidade da marca, imitando os forros míticos do seu calçado, explica que não quer entrevistas, está mais interessado em mostrar o que de melhor há em Portugal: “Calçado, vinho e enchidos”.
Também no expositor da Xica da Silva, no pavilhão dois, se sente o borbulhar da alma do norte, ou não houvesse “finos” a sair conforme entram os clientes.
O entusiasmo é visível na cara dos empresários portugueses, não fosse esta a 84ª edição da Micam, a maior feira internacional de calçado. A delegação portuguesa, composta por 96 empresas responsáveis por 8300 empregos e 550 milhões de euros de exportações, esteve distribuída pelos sete pavilhões compostos por 1600 expositores de aproximadamente 50 países, onde se aguardavam mais de 40 mil visitantes profissionais.
Uma indústria resiliente “Estar representado na Micam é essencial e em termos práticos reflete-se em diferentes tipos de mercados, tais como o sudeste asiático, o britânico e o canadiano. Para grandes corporações, seja uma imagem mais contemporânea, mais comercial, independentemente da marca, do preço, é muito importante estar cá para chegar a novos clientes”, explica Jorge Sampaio, consultor de vendas da nova marca da Martiape, a Pregis. “É uma marca com calçado de segmento médio-alto, contemporâneo, desenhado para homem e mulher”, descreve.Também a Rufel, empresa de malas e carteiras até então só desenhadas para mulher, veio a Milão lançar a sua primeira linha masculina. Os acessórios da linha Rúben Rua by Rufel foram lançados na Micam e prometem estar à venda na próxima época primavera/verão com mais de 15 peças em cinco tipos de pele diferentes. “É um sonho tornado realidade, só ontem ao olhar para o expositor é que me apercebi que isto era mesmo real”, contou ao i o manequim português natural do Porto, entre fotografias com clientes e pedidos para beijinhos.
Carlos Santos, presença clássica da Micam como um dos representantes do calçado de luxo português, explica que “todos os empresários do calçado português têm de estar na Micam”, uma vez que esta é a principal feira de calçado. O empresário português considera que esta é uma indústria “resiliente” e que os empresários portugueses têm feito um trabalho fantástico ao acompanhar as exigências dos mercados.
Recordes de exprtações A Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e Seus Sucedâneos (APICCAPS) apresenta a indústria portuguesa do calçado como “a mais sexy da Europa”, e a economia nacional concorda com o slogan. Segundo a APICCAPS, desde 2010 o setor do calçado português já criou mais de sete mil e quinhentos postos de trabalho e apresentou um crescimento económicode 6.3% em relação ao ano anterior. A confirmarem-se estes valores até final do ano, este será o oitavo ano de crescimento do calçado português nos mercados externos. Ao que tudo indica, em 2017 a exportações portuguesas de calçado deverão registar um novo máximo histórico. Segundo a APICCAPS, Portugal exportou, no primeiro semestre de 2017, 43 milhões de pares de calçado no valor de 960 milhões de euros.
Paulo Gonçalves, porta-voz da APICCAPS, garante que “nos últimos 8 anos as exportações aumentaram mais de 60%”. “Nós temos a meta até 2025 de atingir os dois mil e quinhentos milhões de euros de exportações. E estamos a contar que este ano vamos atingir um novo recorde com os 2 mil milhões de euros, estamos a fazer o nosso caminho”, sublinha.
Para Luís Onofre, presidente da APICCAPS, os problemas da indústria “têm sido superados a nível de comunicação, imagem e marketing” e considera que a presença em feiras deste tipo “é fundamental”. Para os próximos dois anos o presidente da APICCAPS aponta para a aposta nos EUA, como mercado em que irão entrar com “muita força”. Canadá e países asiáticos serão grandes apostas, sem esquecer o mercado português que é um dos principais. Somos muito respeitados, mas temos de trabalhar muito bem as marcas”.
O governo português também esteve presente em Milão, através do ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, e os secretários de Estado da Internacionalização, Eurico Brilhante Dias, e da Indústria, Ana Lehmann.