‘Portugal é apenas uma opção entre várias’

‘Não sei se os dirigentes angolanos passam a vida a pensar em Portugal’, afirma professor de Estudos Africanos.

Numa altura em que o New York Times, num artigo sobre as eleições angolanas de 23 de agosto, se referiu à relação de Angola e Portugal como de uma inversão do colonialismo, de subserviência portuguesa aos dinheiros angolanos, Elísio Macamo, professor de Estudos Africanos da Universidade de Basileia, discorda em absoluto dessa ideia: «Portugal precisa de Angola duma maneira que coloca Angola numa posição negocial forte. Mas falar da inversão da relação colonial não me parece correto».

O académico, nascido em Moçambique e formado na Europa (Inglaterra, Alemanha), sublinha que só «quando Portugal precisar de técnicos angolanos para fazer andar a sua economia, aí sim, poderemos falar de mudança». Até lá, a situação «não mudou» e «seria demasiado infantil da parte de Angola pensar que agora tivesse virado».

Marcelo Rebelo de Sousa estará terça-feira na tomada de posse do seu homólogo angolano, João Lourenço, que substitui ao fim de 38 anos José Eduardo dos Santos. É a primeira visita do chefe de Estado português a Angola, que escolheu Moçambique para a sua primeira viagem oficial, mas o Presidente foi um dos primeiros a felicitar Lourenço pela vitória do MPLA nas eleições, numa altura em que os resultados eram ainda provisórios e a oposição contestava a validade dos mesmos.

O agora Presidente eleito de Angola, afirmou em março, ainda como ministro da Defesa, que as relações com Portugal estavam «frias», porque «nas relações entre Estados deve haver reciprocidade. Nós nunca tratamos mal as autoridades portuguesas e por esta razão exigimos, de igual forma, respeito pelas principais entidades do Estado angolano».

Talvez por isso, ainda antes de tomar posse, Lourenço foi a Espanha, onde chegou a dar uma entrevista à agência Efe, mas não passou por Portugal, nem fez qualquer referência à relação entre os dois países. Será que isso demonstra um arrefecimento nas relações entre os dois países por causa dos problemas judiciais?

«Isso é que eu acho ‘colonial’. Esta insistência em ver tudo o que Angola faz em função da mensagem que Angola quer transmitir à ex-potência colonial. Não sei se os dirigentes angolanos passam a vida a pensar em Portugal, no que pode agradar ou desagradar os portugueses. O país tem várias opções e Portugal é apenas uma entre várias», responde Elísio Macamo.