A 25 de maio apresentei-me nesta coluna como uma das vozes do campo otimista que apontava para a iminência de reavaliações positivas na perspetiva da dívida portuguesa. Pouco tempo depois as agências Fitch e Moody’s vieram confirmar essa expectativa com as respetivas alterações de outlook. Porém a realidade acabou por surpreender até os mais otimistas, quando na passada sexta-feira dia 15 a S&P decidiu antecipar a tradicional sucessão de eventos e anunciar um upgrade imediato de volta ao cobiçado patamar de investment grade. Os mais cínicos poderão considerar que a S&P terá ignorado o prelúdio natural com um ângulo comercial em mente, dado ser a única das grandes agências que o Estado português não contrata para fins de notação. Os incentivos perversos presentes no modelo de negócio das agências de rating são realmente um tema de interesse que merece ser tratado com atenção num artigo futuro, mas o facto é que o passo preliminar de outlook não é indispensável em termos regulatórios.
É agora quase certo que, na ausência de uma súbita hecatombe à escala europeia, as restantes agências irão seguir pelo mesmo caminho e atribuir à República Portuguesa equivalente carimbo de aprovação. Até lá o mercado irá refletir essa expectativa por via de uma progressiva diminuição dos spreads de risco, efeito esse temperado pelo início da retirada de estímulos por parte do BCE. Felizmente para o país, e premiando todos aqueles que contribuíram para a sua reabilitação desde os confins da crise de 2011, a corrida entre o rating e a retirada do BCE foi claramente ganha.
Não é apenas no mercado financeiro que se irão notar os benefícios desta decisão. As empresas portuguesas – que apesar do esforço de desalavancagem dos últimos anos continuam bastante endividadas – terão um balão de oxigénio sob forma de menores custos de financiamento pelo facto do rating da República ser um elemento crucial na apreciação de risco de todas entidades nacionais. Esta sinalização por parte da S&P tenderá também a atrair mais investimento real externo, fator que poderá contribuir para consolidar a tendência de crescimento e redução de desemprego. Por sua vez o Estado, com os custos de financiamento em mercado a baixarem, poderá continuar a estratégia de amortização dos empréstimos relativamente onerosos do FMI. As condições são agora ainda mais favoráveis para trocar os cerca de 10 mil milhões que ainda restam desse empréstimo bilateral.
Como sempre no nosso país, o perigo destes períodos de bonança é o já conhecido ‘embandeirar em arco’. As propostas despesistas são uma tentação sempre presente na mente dos nossos políticos. Um Estado que taxa mais e gasta mais concentra mais poder no decisor central, tendendo a asfixiar lentamente os agentes que realmente produzem a riqueza que eleva padrões de vida. Nesta fase a carga fiscal continua pesadíssima e funciona como um verdadeiro colete de forças na nossa economia. Em vez de se considerar regressar ao despesismo do antigamente, o caminho deverá ser o de cristalizar estes ganhos por via de uma diminuição gradual e transversal de impostos para que a economia possa respirar um pouco melhor.
*Gestor de portfolio multi-activo no BIG – Banco de Investimento Global