Bagagem. Novas regras das companhias trazem taxas e taxinhas

As mudanças no mundo da aviação vão desde os aviões, adaptados ao aumento da procura, ao número de malas que cada passageiro pode levar a bordo. Os bancos ocupam cada vez menos espaço e a bagagem é um assunto cada vez mais complexo. O número de companhias aéreas a mudar as regras do jogo das…

Quem acredita que os atrasos nos voos ou o overbooking são os únicos problemas encontrados na hora de viajar, não podia estar mais longe da verdade. Muitas regras mudaram e até os aviões tiveram de ser adaptados.

Com o aumento de passageiros, as companhias aéreas viram-se obrigadas a encontrar soluções. Apesar de algumas terem optado por reforçar as ligações e as frotas, também houve situações em que foram os próprios aviões que foram adaptados à nova realidade. Um dos casos mais comentados é o caso da portuguesa TAP. Os cadeirões em pele azul acabaram por dar lugar a uma estrutura em plástico e pele cinzenta, com alguns pequenos apontamentos a verde ou vermelho, as cores da transportadora. Com uma espessura muito menor, nota-se, assim que se entra no avião, que os bancos ocupam agora muito menos espaço do que antes.

Há uma vantagem para quem embarca para uma viagem de longo curso, porque isso significa que existe mais espaço entre as filas, mas há quem afirme que é apenas por causa da nova política de colocar alguma bagagem de mão por baixo do banco da frente. Até porque a bagagem é, atualmente, um dos tópicos que dão mais dores de cabeça aos passageiros, um mundo onde cabem todas as taxas e taxinhas.

José conta ao i que escolheu um voo de Lisboa para Dublin pela Ryanair, mas o que encontrou foi uma verdadeira viagem por um mundo cada vez mais confuso onde, até levantar voo, há espaço para que várias somas tenham de ser feitas. “Uns dias antes do voo recebo um email a sugerir que fizesse o check-in online. Verifico que se o fizer menos de duas horas antes do voo tenho de pagar 50 euros. Fui fazer online, mas para meu espanto tenho de pagar na mesma. Pode–se reservar um lugar a partir de 4 euros, mas esses lugares mais baratos já não estão disponíveis. Se quiser ser prioritário, pago mais um suplemento.”

Pensava que as surpresas tinham ficado por ali até que chegou o dia da viagem. “Inocentemente vamos entregar as malas para seguirem como bagagem de porão. ‘Mas compraram bagagem de porão?’, pergunta-nos a senhora. ‘Não’, respondi-lhe. ‘Então levem este recibo e paguem no nosso balcão.’ Eram 40 euros por volume. Mas como o tamanho das malas permitia que seguissem connosco, decidimos levá-las para o avião. Já na fase de embarque, uma funcionária aproximou-se e disse-nos que o limite tinha sido atingido e as nossas malas já não podiam seguir como bagagem de cabina. Pediu-nos que as deixássemos antes das escadas de acesso ao avião, para irem no porão.”

Uma história que se junta a centenas de outras. Já perto da porta de embarque, João e todos os passageiros que tinham Londres como destino, num voo da TAP, foram abordados por uma hospedeira que informou o grupo que nem todos podiam levar a sua bagagem de mão. “Nem queria acreditar no número de malas que tinham de seguir para o porão. Quase todos os que lá estavam foram abordados nesse sentido. Fiquei muito preocupado quando percebi que a minha também tinha de ir. Ficaram todas juntas a um canto e seriam levadas depois por alguém. Nem nome da pessoa, nem qualquer papel, nada. Foi rezar para que corresse tudo bem com a bagagem. Felizmente, correu.”

A verdade é que longe vão os tempos em que as malas não eram problema. Agora, cada centímetro conta e cada cêntimo também. A TAP, por exemplo, oferece um desconto de 6% nos bilhetes a quem viajar sem bagagem. As regras para os voos intercontinentais entraram em vigor este mês e preveem um desconto para quem não levar mala de porão. Vamos considerar, por exemplo, uma viagem de Lisboa ao Rio de Janeiro em novembro. Se precisar de levar bagagem tem de optar pela tarifa básica e paga 882,73 euros; se escolher a tarifa de desconto paga 832,73 euros, ou seja, uma diferença de 50 euros que depende apenas da decisão de levar ou não bagagem de porão.

Mas a TAP não foi a única a anunciar alterações este mês. Também a Ryanair decidiu acabar com as duas bagagens de mão até agora permitidas dentro do avião, a menos que queira pagar mais. A partir de novembro, só os passageiros com embarque prioritário é que têm a possibilidade de transportar duas peças de bagagem de mão na cabina do avião. Ainda assim, a companhia sublinhou que a taxa a pagar para despachar a mala vai diminuir de 35 para 25 euros.

A verdade é que, contas feitas, há quem diga que as viagens podem ficar mais baratas. Mas também existe quem afirme precisamente o contrário. O certo é que a discussão em torno deste tema já teve consequências nalguns países. No Brasil, por exemplo, o governo tem estado a investigar se cobrar pela bagagem realmente faz cair o preço das viagens. Depois de várias companhias aéreas terem afirmado que os bilhetes ficam até 30% mais baratos com as novas regras, a Secretaria Nacional do Consumidor, órgão do Ministério da Justiça, começou uma “averiguação preliminar” para tentar perceber se os números apresentados pela Associação Brasileira das Empresas Aéreas (Abear) batem certo. “No entender da área técnica, existem indícios de inconsistência dos resultados apresentados, principalmente diante da não divulgação da metodologia e dos critérios aplicados”, explica a Secretaria Nacional do Consumidor.

Arthur Rollo, secretário nacional do Consumidor, esclarece que a associação das empresas aéreas relaciona a queda do preço dos bilhetes com as regras para a bagagem, enquanto a ANAC aponta fatores como a oscilação do valor da moeda ou da inflação.