Catalunha. PP ameaça mandar prender Puigdemont

O presidente da Generalitat vai esta terça-feira ao parlamento da Catalunha falar sobre a situação política. O edifício estará rodeado de milhares de pessoas a pedir a independência 

“Com quem tem de dialogar Carles Puigdemont é com o seu advogado”: foi desta forma singela que o porta-voz do partido que manda no governo de Madrid comentou a pergunta sobre se era possível a abertura de diálogo entre a Generalitat e o executivo de Mariano Rajoy. 

Estas declarações foram feitas depois de uma reunião da comissão executiva do PP, na segunda-feira, a que presidiu Mariano Rajoy.

Casado ameaçou diretamente Puigdemont com um exemplo histórico, “Não queiram acabar como o Companys”, referindo–se ao presidente da Generalitat que a 6 de outubro de 1934 proclamou a República da Catalunha, na varanda do edifício que alberga o governo catalão. Na altura, Companys foi detido e preso, por ordem do presidente Niceto Alcalá Zamora, num barco-prisão fundeado junto à costa de Barcelona. Mais tarde, acabou fuzilado pelos franquistas. Isto levou a porta-voz da CUP, Benete Sallelas, a reagir: “Em lugar de ameaçar com fuzilamentos, como o de Lluís Companys, o que deveria fazer o governo era sentar-se a uma mesa e dialogar.” 

No mesmo sentido, da repressão sem diálogo, vão as declarações da vice-presidente do governo espanhol, Soraya Sáenz de Santamaría, que afirmou também nesta segunda-feira que, se hoje o presidente do governo catalão for ao parlamento fazer a proclamação unilateral de independência, será colocado em execução o artigo 155 da Constituição espanhola, que – com a mera aprovação do Senado, em que há maioria do PP – suspende a autonomia e os órgãos eleitos democraticamente pelos catalães. 

Para garantir este cenário no terreno, Madrid reforça a presença militar na Catalunha, tendo enviado mais uma fragata para Barcelona e unidades especiais da Guarda Civil para pontos nevrálgicos da região rebelde, como o aeroporto internacional de Barcelona. A fragata Navarra e os navios caça-minas Segura e Sella chegam hoje ao porto de Barcelona, juntando-se aos mais de 10 mil efetivos da Guarda Civil e da Polícia Nacional, vindos de toda a Espanha, que já lá estão e à chegada recente das unidades militares de logística do Exército de Terra às localidades catalãs de Sant Boi e Llobregat, para dar apoio às forças policiais deslocadas para a Catalunha.

O presidente do Tribunal Superior de Justiça da Catalunha já está a atuar em cenário de possível conflito e colocou a segurança das instalações dessa instância judicial, que tem atuado com mão pesada contra os independentistas, nas mãos da Polícia Nacional, retirando a competência exclusiva da missão aos Mossos d’Esquadra. 

Resposta catalã A Assembleia Nacional Catalã convocou uma manifestação à frente do parlamento para as 18 horas (17h em Portugal), hora a que está prevista a intervenção de Carles Puigdemont perante os deputados sobre a “situação política”. 

Segundo a lei do referendo, aprovada pelo parlamento catalão e considerada inconstitucional pelo Tribunal Constitucional espanhol, esta sessão devia servir para comunicar os resultados do referendo e atuar em função disso. 

“As exortações à repressão, os pedidos de prisão, assim como a repressão à nossa liberdade política, converteram a declaração de independência na única saída”, declara Jordi Sànchez, líder do ANC.

O governo de Madrid pretende humilhar o executivo catalão e parece querer deixar-lhe pouca margem para recuar. Mas o campo independentista não tem uma liderança unificada e os setores mais à direita ficaram assustados com a fuga das sedes sociais das principais empresas da Catalunha para fora da região. 

O independentismo bate-se com um dilema: se avança sem força para garantir no terreno a independência – não tem poder militar para garantir essa decisão contra a vontade de Espanha, nem um plano económico que preveja a sua expulsão da União Europeia -, arrisca-se a perder tudo o que conquistou em termos de autonomia, sem ganhar nada. Mas se recua, arrisca-se a lançar a maioria da população que o apoiou na descrença e perder essas pessoas para o processo político durante gerações. 

Uma das soluções possíveis de recuo, menos dura, é algo já feito, de certa forma, em 2015: antecipar as eleições para o parlamento catalão e fazer delas um referendo à independência, centrando toda a campanha no tema da independência.

Em 2015, isso deu 48% dos votos aos partidos independentistas e 38% aos espanholistas, incluindo-se nestes os federalistas do Partido Socialista da Catalunha. Seria um passo difícil para o independentismo, até porque não há nenhuma garantia de que a via judicial para criminalizar os políticos independentistas não fosse usada até às eleições. Provavelmente, tal como Artur Mas, os principais dirigentes independentistas seriam proibidos de concorrer e, a exemplo do País Basco, Madrid, para garantir uma vitória eleitoral, poderia até chegar a proibir partidos políticos. Há ainda outra questão: parte da população que apoia o referendo poderia recuar, para evitar mais problemas e conflitos, num país em que Madrid manda cada vez mais, mas em que se vive bem. 

Talvez por isso, a agência de rating Moody’s divulgou um documento em que considera positivas as decisões do bancos Sabadell e CaixaBank de mudarem as suas sedes sociais para fora da Catalunha, “para restabelecer a confiança dos investidores”, embora preveja que a Catalunha não conseguirá a independência. “A nossa expetativa é que a Catalunha continue a ser parte de Espanha.”