FARC já são partido e apontam às eleições de 2018

Foco da ex-guerrilha está nas legislativas de março, mas ainda não se descartou a apresentação de um candidato às presidenciais de maio

A designação mantém-se, mas a arena e o instrumento de combate mudou. As Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia, reconhecidas em qualquer esquina do globo como FARC, e protagonistas de uma guerra civil que durou 52 anos, fez mais de 250 mil mortos e cerca de 6 milhões de deslocados, são agora a Força Alternativa Revolucionária Comum. E foi com o mesmo acrónimo que, onze meses volvidos da aprovação dos acordos de paz entre a então guerrilha e o presidente Juan Manuel Santos, oficializaram o seu estatuto de partido político junto do Conselho Natural Eleitoral (CNE) colombiano, na passada segunda-feira.

Pela sede do CNE passaram seis dirigentes da FARC, encabeçados por Iván Márquez – o líder Rodrigo “Timochenko” Londoño não marcou presença em Bogotá, mas acompanhou o momento através do Twitter – a fim de entregarem a documentação necessária para a inscrição da nova força política colombiana e, com esse gesto, confirmarem a sua elegibilidade para as eleições do próximo ano.

“Ao convertermo-nos hoje em Força Alternativa Revolucionária Comum, FARC, entregamos ao povo essa força enorme que, com as suas próprias mãos, indicará o caminho”, começou por dizer Márquez no seu discurso, citado pelo “El Espectador”, antes de esclarecer a missão definida para a ex-guerrilha: “O nosso objetivo continua a ser superar a velha e injusta ordem social, comprometidos sem descanso, e numa constante luta, pelas mudanças pelas quais muitos combatentes ofereceram as suas vidas”.

Quanto às pretensões políticas a curto prazo, Iván Márquez reforçou a ideia – já tornada pública no congresso partidário do final do mês de agosto – de que a prioridade da FARC é a eleição parlamentar, marcada para março de 2018, e que, por isso mesmo, é a elaboração das listas para a Câmara dos Representantes e para o Senado que tem recebido a sua máxima atenção. Para a câmara alta serão escolhidos candidatos dentro do próprio partido, ao passo que para a câmara baixa a estratégia passa por uma mistura entre a nomeação de candidatos próprios e o apoio partidário a candidaturas regionais.

Relativamente às eleições presidenciais com data marcada para maio do mesmo ano, Márquez confessou que a FARC ainda não descartou “apresentar um candidato”, mas não revelou em que estado se encontra esse processo.

Incógnita presidencial

A viver um período único da sua História, fruto do novo posicionamento das FARC na vida política e social do país, a Colômbia já está em contagem decrescente para a escolha do sucessor do Nobel da paz de 2016 – Juan Manuel Santos deixará a cadeira após duas eleições consecutivas (2010 e 2014).

Tirando o caso de Germán Vargas Lleras – o ex-vice-presidente de Santos abandonou o cargo em março deste ano para preparar a sua candidatura – ainda há demasiadas interrogações sobre quais serão as candidaturas mais fortes e que alianças se poderão fazer. 

Pela voz do ex-presidente Álvaro Uribe, o Centro Democrático tem sido o principal partido opositor do atual presidente e do acordo de com as FARC, mas ainda não apresentou qualquer candidato à presidência. 

Outros nomes como Humberto de la Calle – negociador do acordo de paz com a antiga guerrilha –, Sergio Fajardo – ex-alcalde de Medellín – ou Jorge Enrique Robledo – senador social-democrata – confirmaram a sua disponibilidade para as eleições, mas, para já, apenas são vistos com peças a ter em conta no jogo de alianças que ditará em quantas rondas se decidirá a contenda presidencial de maio.