Atualmente encontra-se encarcerado numa prisão de alta segurança de Manhattan, em Nova Iorque, mas, até há bem pouco tempo, Joaquín ‘El Chapo’ Guzmán era um dos mais perigosos fora-da-lei dos tempos modernos ainda a monte. A última detenção do barão da droga e líder do poderoso cartel mexicano de Sinaloa foi em janeiro de 2016 – cerca de seis meses volvidos da fuga surpreendente da prisão mexicana de Altiplano – e o seu longo historial de evasões às mãos das autoridades não deixou outra opção à liderança política local senão a de permitir a sua extradição para os Estados Unidos, no início de 2017.
A primeira fuga de ‘El Chapo’, da prisão de Puente Grande, em 2001 – só voltaria a ser apanhado em 2014, numa altura em que o seu império de narcotráfico lhe oferecia um lugar na lista das pessoas mais influentes do mundo da revista Forbes –, dentro de um carrinho de lavandaria, foi naturalmente acompanhada por uma complexa operação policial de buscas, que se arrastou durante anos a fio. Durante esse tempo, o criminoso logrou passar despercebido, muito por meio da rede de túneis e passagens secretas que mandou construir nos abrigos ou prisões por onde passou, e que lhe valeram a alcunha de ‘rei dos túneis’, junto de Jim Dinkins, responsável pela investigação no Departamento de Segurança Interna norte-americano.
No auge das investigações que resultaram na prisão do narcotraficante em 2014, a Polícia do México descobriu um entrelaçado de passagens subterrâneas na cidade de Culiacan, que ligava sete casas onde ‘El Chapo’ se escondeu, algumas delas com distâncias superiores a 3 quilómetros entre si e com conexões ao sistema de esgotos.
As habitações assemelhavam-se a um qualquer lar mexicano, exceto numa divisão. Nas casas de banho da maioria delas, foi instalado um rebuscado sistema de alavanca que permitia ao fugitivo fazer levantar a banheira e escapulir-se por um buraco rumo a um novo abrigo.
O truque resultou até ser detido, volvidos 13 anos como ‘desaparecido’, mas foi um plano semelhante que lhe permitiu escapar de Altiplano, nas barbas das autoridades prisionais. Em julho de 2015, ‘El Chapo’ evadiu-se daquela prisão de alta segurança, próxima da Cidade do México, através de um sofisticado túnel, construído por baixo do chuveiro da sua cela, ao longo de quase um ano.
A passagem, com 1,70m de altura e 70cm de largura, vinha equipada com um sistema de iluminação e ventilação, e incluía ainda uma estrutura de carris, onde estava estacionada uma mota. O barão da droga só teve de se montar no veículo e percorrer o percurso de cerca de quilómetro e meio entre a sua cela e uma inofensiva casa em obras das redondezas.
No próprio dia em que foi novamente caçado pela Polícia mexicana, em janeiro do ano passado, a lenda de homem fugaz voltou a assentar que nem uma luva a ‘El Chapo’ e novamente com a ajuda de um túnel.
Em Los Mochis, o narcotraficante escapou por um triz ao assalto policial – registado em vídeo e divulgado através da comunicação social – à casa onde estava escondido, utilizando uma passagem secreta escondida atrás de um espelho. Oitocentos metros mais à frente, Joaquín Guzmán surgia no meio da rua, através de uma tampa de esgoto, e voltava a desfrutar de mais algumas horas de liberdade, antes de ser detido.
‘El Chapo’ dificilmente encontrará no Metropolitan Correctional Center de Manhattan as condições – e os cúmplices – necessárias para voltar a desaparecer da vista de todos pelo submundo que jaz debaixo do solo. Está lá encarcerado precisamente por isso mesmo e enquanto as autoridades norte-americanas assim o entenderem, na cabeça do rei da droga não assentará nova coroa.