Na história do roubo de armamento do Paiol Nacional de Tancos escreveu-se ontem mais um capítulo. Durante a madrugada de terça para quarta-feira, o piquete de serviço da Polícia Judiciária Militar (PJM), em Lisboa, recebeu uma chamada anónima em que o interlocutor especificava o local onde poderia ser encontrado o material roubado no final de junho. “Falou como se fosse um mapa do tesouro”, disse fonte conhecedora do processo ao i. As indicações eram de tal forma “precisas” que o militar de serviço que atendeu a chamada achou que o autor do telefonema “estava a gozar”. Mas as buscas que decorreram logo após a chamada, na madrugada de terça para quarta-feira, depressa revelaram a autenticidade da denúncia.
No local indicado, perto da ponte que liga a Chamusca à Golegã, num baldio perto de uma ribeira, a cerca de 20 km de Tancos, a PJM deparou-se com quase todo o material furtado – apenas faltavam as munições de 9 mm. O i sabe que os cerca de 300 kg de armas despejados no baldio – nas quais se incluíam granadas de mão ofensivas, granadas foguete anticarro e granadas de gás lacrimogéneo – foram encontrados, embora molhados dada a chuva torrencial que caiu naquela madrugada, intactos. “Continuavam selados tal como estavam”, explicou. Segundo a mesma fonte, o material teria lá sido depositado, no máximo, 48 horas antes, claramente com a “intenção de ser descoberto”, uma vez que não estava de qualquer forma camuflado.
Apertar o cerco
Uma outra fonte ouvida pelo i assegura que esta denúncia, embora anónima, ocorreu depois de um trabalho de equipa levado a cabo pelas autoridades responsáveis, que “apertaram o cerco de tal forma nos últimos dias” que terão levado os autores do roubo a desfazer-se do armamento.
Um roubo com perna curta?
O facto de o material ter sido recuperado na mesma área geográfica de onde tinha sido subtraído reforça a tese defendida desde o início – a de que o roubo terá sido efetuado por pessoas que conheceriam bem o funcionamento e as fragilidades do Paiol Nacional de Tancos.
Por outro lado, a “devolução” do armamento, que se terá tornado “material demasiado quente”, põe de lado uma das maiores preocupações: afasta a tese de que as armas terão sido furtadas para serem utilizadas em ataques terroristas.
Outra fonte ligada ao processo acredita que o mais provável é que “o material nunca tenha estado muito longe da zona”. Para esta fonte, o facto de ter aparecido todo o armamento à exceção das munições de 9 mm pode significar que “as mesmas seriam o que os assaltantes verdadeiramente queriam”.
As autoridades continuam na pista das munições. Recorde-se que, no início do ano, foi detetado o furto de 57 armas Glock de um armazém da direção nacional da PSP, em Lisboa. As armas furtadas em causa, compradas em 2007 e que nunca chegaram a ser atribuídas, utilizam munições de 9 mm.
O armamento ontem descoberto foi, ainda antes da chegada da Polícia Judiciária ao local, transferido para os paióis de Santa Margarida, à guarda do Exército, onde está “a ser realizada a peritagem para identificação mais detalhada”, disse a PJM em comunicado.
O caso continua a ser investigado pelo Departamento Central de Investigação e Ação Penal (DCIAP), coadjuvado pela PJ e pela PJM.