Durante o mês de setembro – e exceção feita à crise na Catalunha, que se mantém com acrescido ruído, das eleições na Alemanha e da contínua crise semântica entre os EUA e a Coreia do Norte – vivemos o tempo interno das ‘boas notícias’. Dia sim, dia sim, antecipavam-se notícias agradáveis para os ‘bolsos’ dos cidadãos e recordava-se, sistematicamente, o que o anterior Governo havia feito ou havia ‘destruído’.
A consciente, e sábia, ‘nacionalização’ da campanha eleitoral autárquica por parte de António Costa levou a uma vitória do Partido Socialista. O PSD e o PCP foram na ‘onda nacional’, e foram castigados. Em certos casos, duramente castigados.
O PS teve uma vitória mediática – que replicou sistematicamente – e, também, a conquista de alguns municípios emblemáticos das Áreas Metropolitanas de Lisboa e do Porto, com o reforço de maiorias em algumas câmaras e assembleias municipais.
A assumida ‘nacionalização’ da campanha só beneficiou o Partido Socialista — e, em Lisboa, a líder do CDS, que alcançou um resultado impressionante. O PSD e o PCP não perceberam que a ‘nacionalização’ da campanha, a par das ‘boas notícias’, os estava a prejudicar e afetar seriamente. E o PCP, para além de olhar para os resultados com atenção (por exemplo, ganha Loures mas perde, neste concelho, a Assembleia Municipal para o PS!), deve perceber que a inteligente estratégia de Maria das Dores Meira em Setúbal é um interessante ‘caso de estudo’ para as próximas eleições, incluindo para as autárquicas de 2021! Em Setúbal, a CDU reforçou – e muito – o seu peso e a sua influência. E sabendo alguns que a carismática líder de Setúbal vive… em Almada.
Depois de 5 de Outubro – e de um motivante discurso de Marcelo Rebelo de Sousa – é o tempo comunicacional das ‘notícias degradáveis’. E com a urgência, em simultâneo, de apresentar ‘dados estimulantes’.
Estes dados ressaltam do Orçamento do Estado para 2018 e atingem setores bem importantes da sociedade portuguesa. Baixa de impostos nacionais é estimulante. Redução de impostos municipais não é relevante. A ‘nacionalização’ também chega a partir da ‘geringonça’, o que ‘coincide’ aqui com as respetivas matrizes ideológicas. E exigências sindicais, sem que se perca o necessário ‘poder da rua e na rua’!
Mas o cerne é que, na democracia representativa que certos apenas toleram, o voto não é ‘nacional’ e sim ‘individual’. E tem a ver com o agradecimento a quem proporcionou a ‘prenda’ ou a ‘folga’. A quem se tornou o símbolo do ‘prazer’. Porventura da ‘dádiva’!
Mas, a par disto, surgem as notícias desagradáveis.
É a acusação da Operação Marquês e o relatório da tragédia de Pedrógão Grande. Entre outras notícias que geram ‘dor’ e não ‘prazer’.
Daí que este tempo comunicacional seja tão interessante quanto ‘desviante’. Desvia-nos do que é importante – e deveria levar-nos a uma interrogação acerca do estado a que o Estado chegou. E o papel do Estado, cada vez mais atuante em termos de comunicação – que máquina! –, é uma das marcas desta maioria.
E, acredito, um dos temas fraturantes das interessantes candidaturas ao PPD/PSD. Que vão preencher, decerto, algum tempo comunicacional!