Do 19º Congresso do Partido Comunista Chinês – inaugurado na quarta-feira, em Pequim – foram ouvidos anúncios de uma “nova era” que levará a China ao “palco principal do mundo” e a consagrará como potência global, mas os (ainda) únicos detentores do estatuto de superpotência do globo não parecem interessados em ser apanhados pelos chineses. E parecem já ter um plano para travar o entusiasmo de Xi Jinping. Numa intervenção no Centro de Estudos Internacionais e Estratégicos – um think tank norte-americano, com sede em Washington –, o secretário de Estado Rex Tillerson propôs o aprofundamento da “parceria estratégica” entre aquelas que consideram serem “as duas maiores democracias” do mundo, Índia e EUA, para contrariar a ameaça oriunda de Pequim.
“Indianos e americanos não partilham apenas uma afinidade por democracia, mas uma visão para o futuro”, defendeu o diplomata, citado pela BBC, deixando várias críticas à postura expansionista chinesa, particularmente na sua região vizinha: “A China subverte a soberania dos seus Estados vizinhos e desfavorece os EUA e os seus amigos. As suas ações provocativas no Mar Meridional da China ameaçam o direito internacional e as regras pelas quais os EUA e a Índia se regem”.
As palavras de Tillerson não caíram nada bem junto das autoridades chinesas. Num comunicado divulgado pouco depois do discurso de quarta-feira do republicano, a embaixada em Washington garantiu que “nunca procurará hegemonia, expansão ou desenvolvimento à custa dos interesses de outros” países e lembrou que a China “contribui e defende a ordem mundial baseada em regras”.
Já esta quinta-feira, escreveu o “South China Morning Post”, um porta-voz do ministério dos Negócios Estrangeiros chinês pediu aos EUA para clarificarem a sua postura e assumirem “uma posição objetiva” em relação à China e à sua nova inclinação para Nova Deli. Lu Kang esclareceu ainda que Pequim vai “continuar a defender firmemente o multilateralismo”, sem descurar, no entanto, a “salvaguarda dos seus próprios direitos e interesses”.
As declarações do secretário de Estado norte-americano surgem a poucos dias da sua visita à Índia e a poucas semanas do périplo de Donald Trump por vários países asiáticos – incluindo a China. Brahma Chellaney, professor no Centro de Estudos Políticos de Nova Deli, acredita que a viragem para a Índia não é bluff e que é uma estratégia há muito pensada nos corredores da Casa Branca. “Os EUA olham agora para a Índia como um parceiro chave. Essa estratégia já estava a ser seguida pela política externa americana e foi agora colocada preto no branco por Tillerson”, explicou o académico.