Um mês depois das eleições que a catapultaram para um quarto mandato consecutivo – mas que não lhe deram maioria absoluta – Angela Merkel e a sua União Democrata-Cristã (CDU, na sigla em alemão) arregaçaram esta semana as mangas para tentar uma coligação governamental nunca vista na política moderna alemã e cujos protagonistas têm mais divergências que confluências.
Na passada quarta-feira, o partido da chanceler alemã encetou os primeiros contactos, separados, com os líderes do Partido Liberal Democrata (FDP) e dos Verdes, com vista à chamada solução ‘Jamaica’ – assim catalogada pelas semelhanças entre as cores dos partidos e a bandeira daquele país da América Central – e esta sexta-feira vai juntar à mesma mesa todas as forças partidárias.
Jetzt geht's los mit den Sondierungsgesprächen. Gemeinsames Statement von Angela Merkel&Horst Seehofer vor den Gesprächen #JamaikaKoalition pic.twitter.com/9TY6VsSNoh
— CDU Deutschlands (@CDU) October 20, 2017
Os três partidos – mais a União Social-Cristã (CSU), ‘irmã’ da CDU na Baviera – têm a difícil tarefa de harmonizar os seus programas, em matérias tão distintas como a política europeia, tributária, ambiental, comercial ou migratória, e formar um executivo suficientemente sólido para liderar a maior economia europeia nos próximos quatro anos.
As divergências entre democratas-cristãos e liberais estão relacionadas sobretudo com questões económico-financeiras.O FDP, por exemplo, quer reduzir drasticamente os impostos na Alemanha e é contra os planos de reforma da Zona Euro e de criação de um Fundo Monetário Europeu, pretendidos por Merkel e Emmanuel Macron. Nesse sentido, não estranhou ver Christian Lindner piscar o olho à pasta das Finanças, numa entrevista ao Frankfurter Allgemeine Zeitung. Mesmo não tendo reivindicado diretamente para o FDP o ministério até agora chefiado por Wolfgang Schäuble, o líder dos liberais defendeu, que as Finanças devia ficar «politicamente separadas da chancelaria», isto é, da CDU.
Do outro lado da mesa estão ainda os Verdes que, para além das enormes diferenças com a CDU, em matéria de direitos sociais ou proteção ambiental, são essencialmente antagónicos com o programa ultraliberal do FDP. Nomeadamente em relação aos planos de tributação europeus. «A política fiscal europeia necessita de se distanciar da austeridade e procurar um pacto comum, cujas receitas sirvam para financiar a inovação social e tecnológica», defende a vice-líder dos ecologistas, citada pelo El País.
Um eventual não entendimento entre as partes abriria um crise política pouco desejada na Alemanha e obrigaria a uma de três soluções: a formação de um governo minoritário da CDU, pressionado no Bundestag pelos nacionalistas da Alternativa para a Alemanha (AfD) – que ‘roubaram’ um milhão de votos a Merkel e foram o terceiro mais votado –; a procura de uma nova solução de bloco central – que Martin Schulz, do Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) já veio rejeitar liminarmente –; ou a convocação de eleições antecipadas. Cenários pouco apetecíveis para CDU, CSU, FDP, Verdes e SPD, mas atraentes para a extrema-direita alemã.