O facto de os assaltantes do Paiol Nacional de Tancos terem devolvido todo o material furtado à exceção das munições de 9 mm faz com que as autoridades se inclinem para a tese de que seriam as munições o verdadeiro alvo dos ladrões e que o restante armamento apenas foi levado por uma questão de oportunidade. Até porque entre o material agora intercetado pela Polícia Judiciária Militar (PJM) conta-se o material mais valioso e destrutivo, nomeadamente os explosivos plásticos PE-4A.
Segundo uma fonte conhecedora do processo ouvida pelo i, estes explosivos, os que mais preocupavam as autoridades em matéria de possíveis ataques terroristas, constituíam o material “topo-de-gama” furtado de Tancos. No total, e segundo a lista publicada pelo “El Español”, foram furtadas 264 unidades destes explosivos, que têm uma capacidade de explosão avassaladora, capaz de deitar abaixo um edifício.
Uma trama densa
O caso do assalto de Tancos tem levantado várias questões difíceis de explicar desde o início – potenciadas pelas declarações do ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que afirmou em entrevista ao “DN”/TSF que, “no limite”, poderia “não ter havido furto”. E a forma como o grosso do material foi agora intercetado adensa a trama.
O armamento roubado foi devolvido intacto, após uma denúncia anónima, e foi encontrado selado nas caixas em que estava guardado nos paiolins de Tancos, perto de uma ribeira, junto da Ponte da Chamusca, a cerca de 20 km do local de onde tinha sido subtraído. “Apenas duas ou três caixas foram abertas”, disse fonte conhecedora ao i, adiantando que este facto dava a ideia de que os assaltantes, após verem o que ali estava guardado e sabendo que seria fácil rastrear aquele tipo de material, optaram por deixá- -lo para trás.
Esta opção indicia ainda que os assaltantes ou teriam poucos conhecimentos no meio ou sentiram o cerco a apertar-se demasiado, indicando que poderiam ser militares no ativo ou ex-militares. De qualquer das formas, esta tese afasta a hipótese de que o material teria sido roubado com o intuito de ser utilizado em ataques terroristas.
Além disso, o facto de os assaltantes terem avisado as autoridades sobre o local onde tinham despejado o material é mais um ponto por explicar e que está a confundir as autoridades, que continuam agora na busca das munições.
Telefonema anónimo
Ao que o i sabe, a chamada atendida pelo piquete de serviço – um major da Polícia Judiciária Militar que, coincidentemente, estava a trabalhar no caso – partiu de um número de telemóvel que foi de seguida desligado.
Após a interceção, e dado o tipo de material em causa, foi chamada ao local a Equipa de Inativação de Explosivos (EID) do Exército. Seguidamente, a PJM encaminhou o armamento para o Paiol Nacional de Santa Margarida.
Tal como o “Diário de Notícias” noticiou ontem, a ausência de aviso da operação por parte da PJM ao Departamento Central de Investigação e de Ação Penal (DCIAP) – que dirige a investigação, coadjuvado pela Polícia Judiciária e com colaboração da PJM – antes da remoção do material está a causar desconforto entre as autoridades responsáveis.
O Exército é o fiel depositário do material recuperado, mas as peritagens às armas de guerra só poderão ser realizadas após a autorização do DCIAP.