Domingo de futebol, Benfica e Sporting a ganhar e a responder a uma goleada caseira tranquila do FC Porto na véspera. Tudo voltou à normalidade no campeonato português, depois de uma jornada sem vitórias “grandes” – da qual já quase ninguém se lembra, dadas as três semanas que separaram a oitava desta nona ronda.
Na Vila das Aves, que não recebia a visita da águia encarnada desde 2011, o Benfica venceu, mas ficou (mais uma vez) muito longe de convencer. Dois penáltis apontados por Jonas – um claro como as cristalinas águas do Pacífico, o outro bastante mais turvo… -, intervalados pelo regresso aos golos de Seferovic, ditaram o triunfo de um tetracampeão que continua a vacilar e a tropeçar nos próprios pés, qual bebé a dar os primeiros passos num admirável mundo novo.
Em Alvalade, bastaram seis minutos para se gritar “golo” e 15 para o Chaves ficar arrumado. Denominador comum: Bas Dost, que tal como Seferovic parecia já se ter esquecido da mais nobre arte que preside às tarefas de um avançado: marcar golos. O resto do tempo foi um mero pró-forma: a única dúvida era mesmo sobre o número de vezes em que o marcador ia voltar a ser alterado. Foram mais três.
Penáltis com fartura Comecemos pelos acontecimentos nas Aves, a partida que se disputou primeiro. Com três alterações no onze em relação ao encontro da Liga dos Campeões frente ao Manchester United (com destaque para Pizzi no banco, uma imagem que não se via no campeonato desde 25 de outubro… de 2015), Rui Vitória viu a sua equipa entrar pressionante e com uma atitude que tem andado desaparecida nos últimos tempos. O Benfica foi criando oportunidades, mas pela frente os atacantes encarnados deparavam-se com um super-Quim – que neste domingo se tornou o jogador mais velho de sempre do campeonato (41 anos, 11 meses e 9 dias), superando um recorde fixado por Manuel Bento em 1990.
O “avô” da Liga portuguesa acabaria por ser traído pelo colega Washington, que à passagem da meia-hora resolveu cometer um penálti infantil sobre o irrequieto Diogo Gonçalves. Jonas não falhou – raramente falha.
Em desvantagem, o Aves respondeu, desinibiu-se e resolveu lutar pelo resultado. Particularmente pelos pés de Amilton, de longe o elemento mais preponderante do conjunto agora às ordens de Lito Vidigal. Mas faltou, como tem faltado durante todo o campeonato à equipa avense, mais eficácia na hora de atirar à baliza: as ocasiões até existiram – numa delas, foi Rúben Dias a salvar em cima da linha -, mas a pontaria estava longe.
Do outro lado, os níveis de eficácia melhoraram sobremaneira na segunda parte. Logo a abrir, o 0-2: o cruzamento-remate de Salvio acabou por ser confirmado em cima da linha por Seferovic, que voltou aos golos seis jogos depois. O Aves acabaria por encurtar a desvantagem aos 76’, num golo de cabeça de Defendi que parecia voltar a intranquilizar o Benfica, mas logo a seguir um lance muito polémico – que começa numa aparente falta de Jonas e acaba num penálti duvidoso cometido por Gonçalo Santos sobre Pizzi – fechou a contabilidade: 1-3. Mais um penálti, mais um golo para Jonas (já vão 11) e a primeira vitória do Benfica em quatro jogos.
Dost acordou O Chaves apresentava-se em Alvalade com um histórico recente de respeito: não perdia há mês e meio (três vitórias e um empate). Pelo contrário, e embora não pareça, o Sporting só tinha vencido uma vez nos últimos seis jogos. Curiosidades: não mais do que isso, claramente, até porque nunca os flavienses haviam conseguido vencer em 15 deslocações ao reduto dos leões.
Também não seria ontem. E isso ficou à vista logo aos seis minutos, quando Bas Dost respondeu de cabeça a um canto de Bruno Fernandes e inaugurou o marcador, voltando aos golos após seis jogos a seco. Ainda mal o Chaves se procurava recompor, mais uma cabeçada mortífera do holandês, a surgir de rompante na área para dizer “sim” a um cruzamento de Podence.
O jogo perdia toda a emoção, até porque os transmontanos não viriam nunca a mostrar argumentos capazes de os recolocar na discussão do resultado. Perto do intervalo, a machadada final: Gelson entra na área (lançado por… Bas Dost), simula que vai atirar mas passa para Acuña, que só tem de atirar para a baliza deserta.
O mesmo Acuña viria a bisar aos 58’, outra vez assistido por Bas Dost. O holandês estava imparável e não ia acabar o jogo sem conseguir o merecido – e procurado – hat-trick. Foi aos 75’, a cruzamento de Piccini… e sim, o leitor adivinhou: outra vez de cabeça. Nota zero para a defesa do Chaves, que sofreu três golos praticamente iguais do matador da última temporada e mesmo assim, em 90 minutos, não conseguiu descobrir como o travar.
O grande momento do jogo, curiosamente, acabaria por chegar no último lance, e para o Chaves: numa jogada fantástica, Davidson deixou Bruno César e Mathieu nas covas, entrou na área e bateu Rui Patrício com uma finalização sublime. Talvez o único ponto positivo na exibição flaviense.