Governo e PS, e em menor grau BE e PCP, conseguiram impingir a ideia de que quem se atrevesse a mencionar os 65 mortos não era bom português.
Não morrem 65 pessoas em fogos em país algum da OCDE. Mas mesmo assim, em Portugal foi superiormente ‘determinado’ que o simples facto de perguntar sobre as mortes, quanto mais responsabilizar, era «fazer aproveitamento político».
O Presidente da República deu logo sinal de que não estava pelos ajustes, alguns jornais (o SOL, obviamente), nunca deixaram morrer o assunto, assim como o deputado Duarte Marques do PSD, que fez disso uma bandeira pessoal e política.
Mas de uma forma geral penetrou e calou fundo a tese de que era um aproveitamento político o PSD esmiuçar o assunto. E assim, os 65 mortos que tiveram a morte mais atroz passaram a tabu da nação.
Esta força do PS – que também já se tinha visto com Sócrates – é a ‘marca de água’ da governação socialista. Dobra as oposições, convence-as de que os atos mais bárbaros, até as maiores ignomínias, são normais e aceitáveis.
António Costa, como Sócrates antes dele, consegue insidiosamente entrar a tal ponto na cabeça dos membros da oposição que até dentro dos partidos as pessoas se viram umas para as outras dizendo: «Não fales nem escrevas sobre Pedrógão, que parece mal, parece aproveitamento…».
Neste cenário, quem se atreva a tocar no assunto é olhado de soslaio, ficando a falar sozinho, até que eventualmente ceda e deixe de falar…
Este é o drama de qualquer oposição em qualquer momento. O Governo tem sempre o poder, a força, a determinação, os meios, os aliados, as conivências, os interesses todos do seu lado. No caso dos socialistas, o Governo tem também a obsessão de controlar os media.
Para combater este poder, esta força, são precisas oposições com convicções muito fortes, que não abanem com a insídia de primeiros-ministros. Oposições corajosas, que ousem afrontar o politicamente correto. E acima de tudo, uma oposição feita por aqueles que não precisem dos favores do Governo.
Quando Pedrógão já ameaçava cair no esquecimento, o Relatório surge pondo a nu a incompetência do Governo e das autoridades públicas.
Quando o país arde selvaticamente pela segunda vez, meros quatro meses depois, matando mais 42 pessoas, constatamos que António Costa tenta ensaiar a mesma tática, a mesma conversa tecnocrática, a mesma conversa fria de burocrata, tratando o mal com a maior banalidade possível.
Marcelo Rebelo de Sousa impôs-se por fim. Quando falou, invocou a culpa, os mortos que pesam na consciência. Quando falou, condenou a banalidade do mal de António Costa e de todos quantos se renderam a ela. E não foram poucos.
sofiarocha@sol.pt