O líder do Partido Popular Austríaco (ÖVP, na sigla original) e vencedor das eleições legislativas do passado dia 15, confirmou, esta terça-feira, que está a negociar com os dirigentes do Partido da Liberdade (FPÖ), de extrema-direita, a formação de um governo. “A Áustria merece a formação rápida de um governo estável, com uma maioria sólida no parlamento”, justificou Sebastian Kurz numa conferência de imprensa onde revelou discussões “muito construtivas” e uma expetativa comum de se alcançar um acordo de governação “antes do Natal”.
O convite do político conservador, de apenas 31 anos, a Heinz-Christian Strache – líder do partido fundado em 1956 por um antigo nazi e membro das SS – foi movido, segundo o primeiro, pelas posições idênticas entre os dois partidos em matérias como a imigração ou os impostos, mas a formação de um executivo depende, no entanto, da aceitação, por parte do FPÖ, de que o novo governo se regerá por uma postura pró-União Europeia. Algo que Strache dificilmente conseguirá engolir.
Profundamente eurocético, anti-imigração e anti-Islão, o Partido da Liberdade defende o corte dos apoios sociais aos imigrantes, a adoção do modelo suíço de levar a referendo as questões mais controversas da agenda política e a adesão ao Grupo de Visegrado – uma aliança regional entre Polónia, Hungria, República Checa e Eslováquia, que tem desafiado repetidamente a UE, através da rejeição do sistema de distribuição de migrantes e requerentes de asilo por quotas.
A confirmar-se o compromisso governativo entre ÖVP e FPÖ, restabelece-se também a aliança política acordada em 2000, que, pela primeira vez na História do pós-Segunda Guerra Mundial, testemunhou a entrada de um partido neonazi num executivo europeu. Na altura, milhares de pessoas saíram à rua em protesto e a UE impôs duras sanções económicas à Áustria.
O ÖVP venceu as legislativas com 31,5% dos votos e elegeu 62 deputados, pelo que necessita de, pelo menos, mais 30 lugares para lograr uma maioria na assembleia de Viena. A aproximação ao FPÖ (51 deputados eleitos) não tem apenas que ver com afinidades programáticas. Os largos anos de coligação com o Partido Social-Democrata (SPÖ) atingiram um ponto de rutura na primavera passada e nem os 52 parlamentares eleitos pelos segundos parecem ser suficientes para a criação de um novo bloco central, sob liderança de Kurz.