Catalunha. Espanholistas invadem centro de Barcelona

Cerca de 300 mil pessoas defenderam nas ruas a perda de autonomia da Catalunha, numa manifestação com incidentes em que se exigiu a prisão para Carles Puigdemont

Os unionistas voltaram a fazer uma grande manifestação em Barcelona. Vindos de vários pontos de Espanha, em centenas de camionetas e comboios, juntaram muitas dezenas de milhares de pessoas numa grande manifestação na capital da Catalunha. Segundo os números da organização, mais de um milhão e cem mil pessoas; segundo a polícia, cerca de 300 mil. Desta vez, o governo de Madrid resolveu também meter-se na guerra dos números e contou os seus apoiantes em mais de um milhão. 

A manifestação convocada pela Sociedade Civil Catalã – organização que preenche no campo unionista o mesmo papel que a Assembleia Nacional Catalã e a Òmnium Cultural, no campo independentista, com a imensa vantagem para os unionistas de não terem os seus líderes presos – foi apoiada pelo Partido Popular, o Partido Socialista da Catalunha e o Ciudadanos. E serviu para mostrar nas ruas os catalães e os espanhóis de muitas zonas do país que apoiam a adoção do artigo 155, que suspende a autonomia da Catalunha, por parte do executivo de Mariano Rajoy. 

A marcha unionista, que começou no Paseo de Gracia logo no fim da manhã, atravessou parte do centro de Barcelona – uma massa de gente em que predominavam as bandeiras espanholas, acompanhadas de algumas bandeiras catalãs tradicionais, as senyeras, e de outras da União Europeia. 

Como na anterior grande manifestação espanholista, do dia 7 de outubro, a palavra de ordem mais gritada foi “Puigdemont para a prisão”, bem como s vivas às forças da ordem espanholas e os assobios à polícia autonómica catalã, os Mossos d’Esquadra.

Uma das estrelas da manifestação foi, como na marcha de dia 7 de outubro, o ex-presidente do Parlamento Europeu Josep Borrell, que garantiu que se “a Catalunha fosse independente, muitos dos catalães acabariam no desemprego”, e disse no seu discurso, aludindo ao referendo independentista de dia 1 de outubro e à convocação de novas eleições regionais para o dia 21 de dezembro, por Mariano Rajoy: “Iremos votar, não como abutres que comem um cadáver, mas como cidadãos que sabem que do seu voto depende a história do seu país.” 

Na mesma linha falou Albert Rivera, líder do Ciudadanos: “Enchemos as ruas e vamos encher as urnas. Temos de votar em massa.” Os representantes do governo de Mariano Rajoy na manifestação, o delegado do governo na Catalunha, Enric Millo, e a ministra da Saúde, Dolors Montserrat, sublinharam o papel determinante do executivo de Madrid, do poder judicial e das forças da ordem para impedirem a marcha da Catalunha para a independência. “Não podíamos permitir que uma minoria imponha a sua vontade ao resto da população. Todas as ideias são legítimas, mas desde que sejam democráticas e respeitem a lei”, alardeou o delegado de Madrid, Enric Millo. “Dissemos que não vos abandonaríamos, que não vos deixaríamos sós, e não o fizemos. Por isso mesmo vamos colocar umas urnas [eleições] de verdade”, lembrou a ministra Montserrat. 

Eleições essas que, embora estejam anunciadas por Rajoy para 21 de dezembro, não se sabe ainda se nelas vão participar os partidos que não estiveram na manifestação e que representam quase dois terços dos deputados no atual parlamento catalão: PDeCAT, ERC, CUP e a coligação que inclui o Podemos. No caso deste último, a sua participação estará sujeita às condições de democraticidade do escrutínio e à não prisão dos dirigentes e ativistas independentistas. Por sua vez, a ala esquerda do independentismo, a CUP e outros, já afirmaram que “em democracia, um país não convoca eleições noutro país”.

Incidentes 

Ao contrário das manifestações independentistas, habitualmente pacíficas, as unionistas, dada a participação de grupos de extrema-direita, costumam ter momentos de agressões e violência. Esta não foi exceção. Apesar de elementos da Polícia Nacional terem participado na manifestação, ultras atacaram elementos dos Mossos d’Esquadra na Praça de Sant Jaume, agrediram jornalistas do site El Nacional e atiraram cigarros e moedas a jornalistas da TV3, além de terem agredido um taxista e trabalhadores dos caminhos- -de-ferro, segundo denuncia a confederação sindical Comissiones Obreras.

Apesar da grande demonstração de espanholismo na Catalunha, nem tudo foi perfeito para Madrid nesta jornada, tendo em conta que o Real Madrid jogou em Girona e acabou derrotado por 1-2 pelo clube local, ascendido esta época à principal liga do futebol espanhol e um dos mais independentistas da Catalunha.