Os Bairros Municipais de Lisboa

Falar dos bairros sociais é politicamente incorreto. A esquerda sente-se confortável com o tema, a direita, não. Oscila entre a fase da negação, do confronto direto, do paternalismo, até que invariavelmente cede ao discurso de esquerda, vergada ao peso do politicamente correto.

Nada que seja público, que esteja sob a administração pública e seja feito com dinheiros públicos poderá estar fora do escrutínio público.

Ora, quem está há anos na vereação Câmara Municipal de Lisboa, com pelouros ou sem pelouros, na Assembleia Municipal de Lisboa, no plenário ou em comissões, sabe – ou tem o dever de saber – qual a situação dos bairros municipais (da Câmara) de Lisboa (são mais de 60).

Lisboa tem cerca de 500 mil residentes, cerca de 100 mil vivem em bairros municipais.

Vamos então pedagogicamente – e sem tabus – falar deste universo gerido pela CML. Em Lisboa, durante estes anos todos de governação socialista, não se apostou na reabilitação dos bairros municipais.

Em outubro de 2016, a um ano de eleições, a Câmara endividou-se tendo ido pedir 250 milhões de euros ao Banco Europeu de Investimento (BEI), que serão pagos em 20 anos. Destinou 40 milhões para dois bairros municipais: o Bairro Padre Cruz e o Bairro da Boavista. E isto sucedeu porque pela primeira vez o BEI permitiu que o dinheiro fosse investido na recuperação de bairros. Aliás, isto mesmo foi confessado pela vereadora Paula Marques em entrevista ao Jornal de Negócios em dezembro de 2016.

Isto é: foram pedidos ao BEI 40 milhões de euros para recuperar dois bairros municipais, que vão ser pagos pelos lisboetas durante 20 anos. Portanto, o compromisso do PSD é total com os bairros municipais e com esta dívida que vai ser paga por todos nós. Não há maior compromisso com uma coisa do que pagar contas.

Por outro lado, é errado tratar 100 mil pessoas como se fossem todas iguais, lá porque moram em bairros municipais. Não são todos desvalidos nem coitadinhos. Há pessoas muito desfavorecidas, há pessoas que não o são. Há bairros muito degradados e outros que são um exemplo. Há pessoas que estragam as casas que lhes são entregues e outras que tratam das casas como se fossem os seus verdadeiros proprietários – e aos quais, em muitos casos, a Câmara já deveria ter vendido as habitações.

Uma tarefa que os eleitos locais têm de fazer ao longo de todo o mandato é elucidarem os munícipes e eleitores. O PSD não podia ter caído no discurso populista que Assunção Cristas adotou, nem se render a um discurso de esquerda, como fez.

Ora, com a convulsão da habitação em Lisboa – em que as classes médias não conseguem morar em Lisboa – e no ano em que se faz o maior investimento nos bairros municipais, faz algum sentido o PSD fazer uma campanha eleitoral devotada aos bairros? Não fez.

sofiarocha@sol.pt