Nem as Femen detiveram Polanski em Paris

Com Hollywood abalada pelo escândalo das denúncias de abusos de Harvey Weinstein, em Paris, vários grupos feministas tentaram impedir a realização de uma retrospetiva dedicada ao realizador polaco na Cinemateca Francesa, numa polémica sobre a qual até a ministra da Cultura se pronunciou.

Eram cerca de 40 as mulheres concentradas em protesto diante da entrada da Cinemateca Francesa, em Paris, que nesta segunda-feira iniciava uma retrospetiva à obra de Roman Polanski com a exibição do seu último filme, “D’après une Histoire Vraie”. Mas nem a Osez le Féminisme nem a La Barbe – nem as Femen, três organizações feministas que compareceram no protesto, conseguiram impedir que o realizador aparecesse.

Pela porta das traseiras e escoltado por seguranças, Polanski – que em fevereiro tinha recusado presidir à cerimónia da entrega dos Césares, os prémios maiores do cinema francês, receando um reacender das polémicas de abusos sexuais em que esteve envolvido, que remontam à década de 1970 – compareceu na apresentação do filme, entre petições pelo cancelamento da retrospetiva, que a Osez le Féminisme considerou “indecente” e insultuosa para todas as vítimas de assédio, e numa altura em que parecem longe de terminar as repercussões do escândalo envolvendo Harvey Weinstein, em Hollywood.

As ameaças de protestos tinham levado até a ministra da Cultura, Françoise Nyssen, a pronunciar-se sobre o assunto, em declarações à rádio France Inter, notando que uma retrospetiva tinha como objeto “um corpo de trabalho, não um homem” e que não era sua função “condenar um corpo de trabalho”.

Vídeos publicados nas redes sociais mostram duas ativistas das Femen serem barradas pela segurança ao tentarem entrar no edifício à chegada do realizador de “O Pianista”, contra quem gritavam palavras de ordem como “nenhuma homenagem para violadores”.

Entre tudo isto, Polanski, acompanhado da sua mulher, a atriz Emmanuelle Seignier, não se limitou a fazer a apresentação do filme, baseado na obra homónima de Delphine Vigan, e comentou pertinência da iniciativa da Cinemateca Francesa. “A Cinemateca guarda os meus filmes. E é possível conservá-los para a eternidade, digamos… Em tempos podíamos queimá-los como Hitler queimava livros”, disse. “Hoje temos o digital e podemos passá-los de um suporte para o outro sem perder qualidade e é por isso que a manutenção dos meus filmes está assegurada apesar de alguns loucos.”

Apesar dos protestos, a Cinemateca não só já fez saber que não tenciona cancelar a retrospetiva, que terminará a 25 de novembro, como, segundo o jornal francês “Le Figaro”, tem anunciada para janeiro um ciclo dedicado a Jean-Claude Brisseau. Mais um realizador controverso depois de em 2005 ter sido condenado a um ano de prisão por assédio sexual a duas atrizes e de dois anos depois se ter visto envolvido num processo em que era acusado por uma terceira mulher de violação.