Em 1992, uma revolução nada subterrânea estava prestes a acontecer. Em Lisboa, o Alcântara-Mar e o Kremlin redefiniam os padrões estéticos da noite e emulavam as novas tendências do house e do techno, importadas de Londres, Nova Iorque, Chicago e Detroit. Ainda secretas, as primeiras raves aconteciam na zona oriental da cidade através de palavra-passa-palavra – o único GPS disponível na época. So Get Up, a bomba atómica detonada pelos Underground Sound of Lisboa (DJ Vibe e Rui da Silva) estava a dois anos de explodir. 24 meses ainda não pareciam dois séculos como agora mas eram o tempo necessário para fixar um antes e um depois.
É no precedente que se situa o Pacha, “o primeiro franchising fora de Espanha”, recorda o agora responsável Marco António. “O [primeiro responsável] José Vieira ia a Ibiza e conheceu o dono. Tomou a iniciativa e trouxe para Portugal. Foi pioneiro”, explica. Hoje uma das mais célebres cadeias noturnas, o Pacha era conhecido pelas noites a entrar manhã dentro em Ibiza. A casa-mãe continua a ser uma das atrações turísticas mais procuradas na ilha balear mas “hoje em dia há em todo o lado, de Nova Iorque ao Dubai, Ásia e Austrália”, contextualizada. A discoteca de Ofir, concelho de Esposende e distrito de Braga, de onde José Vieira é natural, foi o primeiro passo na expansão. E um marco na cultura noturna em Portugal. “Há um antes e um depois. O Pacha veio fazer a mudança. Marcou uma fase de transição. Já havia alguns clubes em Lisboa como o Kremlin, mas o Pacha ficava fora. Marcou uma geração. Alguns já são avós”, conta Marco António.
“As pessoas vinham de todo o lado em Portugal e da Galiza”, continua, para ouvir pela primeira vez alguns dos maiores DJ do planeta. Recordam-se alguns dos dinossauros do house como David Morales, Carl Cox, Masters At Work e Tony Humphries entre os históricos que deixaram marca nas paredes e no solo do Pacha. E alguns dos maiores símbolos nacionais da cultura DJ como DJ Vibe, Rui Vargas e Tó Ricciardi, então também eles precursores de uma cultura a nascer, não só firmada na música eletrónica de dança, como na fantasia noturna e excentricidade.
“São 25 anos com os maiores do mundo”, recapitula Marco António que não esquece os famosos fins de semana 48 Hour Non-Stop em que “até a limpeza da discoteca era feita em simultâneo com a festa”. Noite e dia de farra com “a nata, grandes profissionais de diferentes ofícios” que se deslocavam ao pinhal de Ofir, ali perdiam o sono durante 48 horas e enchiam os hotéis da região. Muitos deles só para tomar o pequeno-almoço, tomar um banho e regressar à base: a pista de dança, onde o corpo perde a noção da gravidade.
No final de uma década de 90 de grande efervescência, o Pacha era apontado pela revista Muzik como um dos 21 clubes para o século XXI, figurando ao lado da sede. Marco António explica esse reconhecimento com a “satisfação dos artistas” que ali “se surpreendiam com as grandes condições oferecidas como a qualidade do som”. Os elogios produziram “feedback internacional” e o Pacha Ofir posicionou-se enquanto clube de referência.
“Temos um público fiel que faz 200 km regularmente. A programação tem que ser muito bem estruturada. Isso obriga-nos a um trabalho de planeamento, organização e produção. O Pacha é um mini-festival. Isso obriga-nos a uma infraestrutura grande de serviços, acessos e casas de banho. Chegam a trabalhar umas largas dezenas de pessoas em cada festa”, explica.
Como na canção de Pedro Abrunhosa, há uma “Noite na Noite” este serão. O 25.º aniversário do Pacha é o bolo e o Halloween a abóbora. Uma boda mandatória para um marco temporal tão importante é o convite a dobrar para uma tradição recente e importada dos EUA. Além do músico, há Mundo Segundo e Sam The Kid, Cosmo Klein, Anja Schneider, Rebekah, Carlos Manaça e Rui Vargas, entre outros, para chamar seis mil pessoas às seis pistas do Pacha.