Sebastian Kurtz – lê-se regularmente de quem se encontra com ele – parece sempre guardar o ar de quem acaba de sair do chuveiro. Desperto, atento, nunca descuidado nos fatos costurados à medida, o cabelo, loiro, reluzente do gel que o deixa no lugar. Comporta-se, de modo geral, com uma solicitude reveladora, como escreve Walter Mayr na revista alemã_Der Spiegel. Tal como alguém que há muito escolheu o local de destino e a melhor forma de lá chegar. Nas palavras de Mayr: «Concede a maior atenção a quem quer que seja com quem fala, inclina-se para diante, ouve e dá às pessoas a sensação de que são importantes: “Posso trazer-lhe água?”, pergunta, ainda antes de nos conseguirmos sentar. “Está a passar bem?”»
Kurz seguiu rigorosamente a linha traçada e está prestes a chegar ao destino. Tem apenas 31 anos, mas este mês venceu as eleições legislativas na Áustria com o seu partido conservador ÖVP, conquistando 32% dos votos. Bateu veteranos como o atual chanceler social-democrata, Christian Kern, e o conhecido líder da extrema-direita, Heinz-Christian Strache – o primeiro obteve 27% e o segundo 26%. «Certamente não estava à espera de me tornar um político de carreira», explica, lançando-se contra o poder instituído nas velhas famílias políticas e o que diz serem as categorias caducas da direita e esquerda. Fala quase como se o seu partido não fosse há décadas uma das principais formações austríacas e ele, Kurz, um meticuloso aspirante ao poder.
O jovem austríaco dificilmente pode dizer que nunca tencionou liderar. Há muito que se prepara para este momento._Aos 16 anos, por exemplo, então na organização da juventude do Partido Popular, onde chegou a líder, já dizia pelos corredores que pretendia mudar o ÖVP. Aos 24 chegou a secretário do governo conservador, ocupando o recém-criado cargo de responsável pela Integração. Por essa altura estreou slogans que ainda utiliza – «a integração é dar e receber», ou «aqueles que trabalham e beneficiam a sociedade não podem ser os perdedores».
Foi largamente desprezado na imprensa e nos meios políticos. O Der Standard chamou-lhe uma farsa, em parte porque Kurz fora até àquele momento sobretudo um agitador que conduzia uma carrinha com mulheres decotadas, tentando angariar o voto jovem – escreve-o o Der Spiegel. Algumas pessoas cuspiam-lhe aos pés quando se aproximava. Dois anos depois, nas legislativas de setembro de 2013, foi eleito deputado com mais votos diretos do que qualquer outro. Três meses depois tornava-se o mais jovem ministro dos Negócios Estrangeiros no mundo.