Casei com a mais espetacular de todas, temos duas filhas, sou muito próximo da minha mãe, a minha chefe é uma mulher tal como todos elementos da minha equipa de trabalho mais direta. A maioria das pessoas que trabalham na agência são mulheres. Estudei numa faculdade com o rácio de um homem por cada dez mulheres, lembro-me bem da primeira imagem da minha turma de vinte cinco elementos onde estávamos dois representantes do cromossoma Y. Posso ainda somar todas as amigas que fui fazendo ao longo dos anos e que, de forma mais ou menos próxima, ainda hoje fazem parte da minha vida.
Nunca consegui entender o porquê da popularidade do epíteto de sexo fraco aplicado às mulheres, exceto por motivos históricos, como algo que vem de há muito e que ainda não desapareceu completamente. Não faz qualquer sentido. Mas percebo que pertenço a uma minoria por pensar assim, apenas 26% das mulheres e 35% dos homens consideram que os dois géneros são iguais, de acordo com um estudo recente sobre o tema publicado pela Havas.
A grande questão da igualdade de género, a paridade de direitos e oportunidades, tem sido alvo de inúmeros debates em variadíssimos fóruns. Um esforço, à data, insuficiente. Apesar dos exemplos fáceis de Angela Merkel ou Theresa May, que lideram dois dos países mais influentes do mundo, não é justo falar de igualdade. Globalmente, há menos mulheres em posições de liderança, em cargos com grande influência política, a ocuparem posições relevantes na indústria da tecnologia. As mulheres ganham até menos do que os homens em posições equivalentes.
A comunicação será, porventura, dos setores mais ativos na promoção da igualdade de género. São inúmeras as ações que, com recurso às mais diversas formas de transmitir a mensagem, procuram chamar a atenção a para o tema. Recordo alguns exemplos, desde um médico que comunica aos pais que vão ter um filho que toda a vida sofrerá pressões, discriminações só porque é mulher, às inspiradoras ações da Nike Woman passando pela Fearless Girl (uma estátua de uma rapariga que olha de frente para o touro de Wall Street) que, apesar de promover um fundo, assume um claim muito poderoso ‘Know the power of women leadership. SHE makes a diference’. Não alinho na tese que a grande maioria das mensagens comerciais procuram agredir a mulher, fazendo-a sentir-se mal por permitir manchas de óleo no sofá – que obviamente só podem ser removidas com recurso a um determinado detergente maravilhoso.
Sou totalmente a favor da igualdade de género, todos os géneros devem ter os mesmos direitos. Mas ter direitos iguais não significa que sejamos iguais, que deixemos de constatar as evidentes diferenças que existem entre os dois sexos. Não será a diferença um fator com muito mais aspetos positivos do que negativos?
No nosso estudo identificam-se duas competências que os homens têm menos propensão para dominar do que as mulheres. Em primeiro lugar as soft skills, competências relacionais numa tradução livre, que são cada vez mais a chave para o sucesso das empresas. Numa realidade global e colaborativa, dominar esta capacidade é uma vantagem inequívoca em qualquer contexto. O segundo fator e talvez o mais importante, é a maior capacidade que as mulheres têm para promover movimentos de mudança, originar transformações e aceitar novos contextos e realidades.
Quero acreditar que as minhas filhas vão viver num mundo de oportunidades iguais. Que se vão conseguir impor pelo seu mérito e não por pertencerem ao sexo que, na sua altura, tenho para mim que será o dominante.
Mais uma vez pertenço a uma minoria, pois apenas 30% dos homens acredita que no futuro serão as mulheres a liderar a transformação no mundo. Mas, pior ainda, é que só 45% das mulheres acredita que tal irá acontecer.
*Responsável Planeamento Estratégico do Grupo Havas Media