Jakob Witt. “A nossa geração habituou-se à liberdade”

Jakob vai fazer Lisboa-Talin num ano, de bicicleta, enquanto o pai faz a viagem a pé. Objetivo: terminar o caminho numa Europa mais unida

Jakob Sonnenholzer e o irmão cresceram a ouvir as histórias do pai, que nasceu em plena ii Guerra Mundial e que, por isso, sempre deu uma importância acrescida ao facto de, depois de uma infância passada numa Europa dividida, poder viver numa Europa unida. Para promover a comunicação e o contacto entre os diferentes países, Jakob e a família dão amanhã início a uma viagem que só termina daqui a um ano, em Talin. Jakob vai de bicicleta; o pai, Carsten Witt, vai a pé. Mas os dois têm esperança que esta caminhada esteja longe de ser solitária e que, no final, tragam toda uma Europa a reboque.

Como surgiu o movimento “Go Europe”?

O meu pai sempre teve o sonho de atravessar a Europa a pé. Como nasceu em 1941, apanhou o final da ii Guerra Mundial e uma Europa dividida. Sempre viu a Europa unida como um sonho e agora, aos 76 anos, vai fazer aquilo com que acha que pode contribuir para ver esse sonho concretizado.

Imagino que o Jakob tenha crescido a ouvir falar desta vontade.

Sim, mas nem pensava muito nisso. A nossa geração habituou-se à liberdade. Para nós, a liberdade é tão natural que nem pensamos nela. Todos fizemos Erasmus, viajamos para todo o lado sem barreiras… Mas, recentemente, envolvi-me na crise dos refugiados, ajudei alguns a chegar à Europa e percebi que essas pessoas procuram a Europa por causa dessa sensação de liberdade que temos. Mais tarde percebem que a Europa não é esse paraíso que imaginam e acabam presos em campos de refugiados e em terras de ninguém, num cenário bem longe do ideal. Mas se nós temos direito a certos privilégios, todos o devem ter.

Como é que tudo começou?

Apesar de a ideia ser antiga, só se transformou em projeto no final do ano passado. Entretanto temos viajado pela Europa a falar com as pessoas, a ajudá–las a organizar-se para fazerem algo pelo seu país. É engraçado perceber que em todo o lado onde vamos, as pessoas sentem essa necessidade de fazer alguma coisa, mas muitas pensam que não há nada que possam fazer.

E há?

Claro. Juntar-se ao nosso movimento, por exemplo. Ainda por cima somos completamente apartidários e abertos a todas as participações. Eu, por exemplo, tenho a função de embaixador internacional do projeto, mas vou pegar na minha bicicleta e fazer o trajeto também.

Não é perigoso?

Um dos privilégios que temos na Europa é a segurança. Podemos caminhar de Lisboa a Moscovo sem medo. Não digo que nada possa acontecer, mas é muito difícil. Onde quer que vás na Europa, as pessoas respeitam-te, tratam-te bem. Mesmo que não gostem de ti, é difícil que te façam mal.

Esperas terminar a viagem acompanhado?

Ia começar sozinho, mas um amigo vai juntar-se a mim nos primeiros dias. Mas sim, espero acabar acompanhado, até porque a ideia é influenciar as pessoas pelo caminho para se juntarem a mim. Mas mesmo aquelas que não possam, mas queiram ajudar, podem contribuir com uma refeição ou um sofá para podermos passar a noite.

Passou de um projeto pessoal a um projeto europeu?

Quero acreditar que sim. Melhor que ver o meu pai a realizar o sonho de atravessar a Europa a pé é vê-lo fazer isso isso durante um ano, sempre acompanhado por quem, como ele, acredita que a Europa é tanto melhor quanto mais unida estiver.