O tema da violência praticada por seguranças da “indústria da noite” está longe de ser novo. Ao longo dos anos, muitos têm sido os casos conhecidos, particularmente no Porto e em Lisboa, em que algumas dessas situações ganharam maior destaque mediático.
Na capital, uma das zonas onde mais se assiste a este triste fenómeno é na denominada Rua Cor-de-rosa, no Cais do Sodré. Ali, num espaço que deveria proporcionar alegria e diversão, é habitual assistir-se a agressões brutais e, na generalidade dos casos, gratuitas por parte de seguranças dos bares – e, regra geral, são quatro ou cinco elementos das forças de segurança a espancar apenas uma pessoa.
Em março de 2015, um vídeo divulgado nas redes sociais onde ficava bem patente este tipo de comportamento gerou uma onda de indignação e revolta. Então, a empresa de segurança privada Cosmos apressou-se a demitir o segurança que aparecia a agredir um homem com murros e pontapés na cabeça, com este deitado no chão, e anunciou ainda a suspensão de outros dois intervenientes, sujeitos também a um processo interno. No verão anterior, sete seguranças vestidos com camisolas da mesma empresa já haviam espancado quatro turistas de origem marroquina, com o então diretor de operações da Cosmos a dizer que, “na melhor das hipóteses”, os elementos em causa seriam suspensos das suas funções.
Em abril deste ano, 13 seguranças de bares do Cais do Sodré começaram a ser julgados em Lisboa, acusados de dezenas de crimes de ofensa à integridade física e detenção de arma proibida. “Durante, pelo menos, os anos de 2009, 2010 e 2011, os referidos arguidos, ao mínimo desentendimento verbal com os clientes, passavam à agressão, atuando de uma forma violenta, quer pelo número de agressores, quer pelo recurso a facas, soqueiras, correntes e outros objetos”, sustentou o Ministério Público na acusação, indicando o nome de cerca de 30 ofendidos.
“Na sequência de desentendimentos, os arguidos contactavam-se via rádio e chegavam, inclusive, a fechar o bar onde exerciam funções para ajudar outros seguranças a agredir as pessoas com quem se desentendiam. Nalguns casos, os arguidos faziam apenas vigilância, impediam os transeuntes de prestarem auxílio ao cidadão que estava a ser agredido e agrediam quem tentasse ajudar as vítimas. Aos envolvidos neste processo juntavam-se outros indivíduos não identificados que habitualmente circulavam pela rua onde se situavam os bares da zona, que os arguidos contactavam via rádio para ajudar nas agressões, atuando em comunhão de esforços e entreajuda. Muitas das vítimas não apresentavam queixa, algumas por serem estrangeiras e muitas outras por não se mostrarem capazes de reconhecer todos os agressores, devido ao número de agressores, à violência das agressões e ainda à estratégia utilizada pelos arguidos, que logo após cessadas as agressões trocavam de roupa para dificultarem o reconhecimento pelas vítimas e, por vezes, ausentavam-se do local para não serem identificados”, pode ainda ler-se no documento.