Imaginemos um pequeno país onde, um dia, chega uma empresa chinesa e compra a eléctrica nacional; depois vem outra e compra as infra-estruturas de distribuição; e mais outra que compra uma seguradora, um banco, e, sem cerimónias, anuncia que vai continuar a comprar.
Mais tarde, vem uma empresa angolana e compra um banco; logo de seguida, vende-o e compra outro. Depois, um banco espanhol compra o banco que Angola vendeu, e um outro compra mais um, que por acaso era inglês.
Confusos?
Simplifiquemos: a banca privada é toda estrangeira, ponto!
Entretanto, uma empresa francesa torna-se dona dos aeroportos e da ponte Vasco da Gama, e esclarece que também irá querer o futuro aeroporto.
Para não ficarem atrás, investidores brasileiros compram a maior empresa cimenteira do país e a companhia de bandeira de transporte aéreo. Finalmente, um fundo americano arremata, num leilão manhoso, o que restava do último dos grandes bancos privados.
Governantes e economistas dizem que o investimento estrangeiro é bem-vindo, e que não interessa quem é o dono das empresas mas sim quem as administra.
Os capitalistas locais estão de bolsos vazios, o dinheiro faz-lhes falta e não há por cá o que abunda noutras paragens: nacionalismos e coisas que tais…
Esquecida a soberania, o Estado e os privados vendem, não importa a quem e em que condições, porque o dinheirinho é preciso para amortizar dívidas, remunerar os bancos de investimento e, last but not least, gratificar generosamente os ‘facilitadores’, que trouxeram os compradores e ‘agilizaram os processos’. Olha-se para o mapa e encontramos uma obscena concentração de ‘facilitadores’ em África, na América do Sul e no Leste da Europa, mas o vírus ataca igualmente em Portugal, em correspondência com o aumento do número de ex-governantes.
Sucede que os novos donos recorrem aos serviços dos grandes escritórios de advogados, justamente aqueles que fazem as leis, fabricam pareceres e fornecem abundante mão-de-obra à Assembleia da República, a governos, partidos, administrações das empresas, supervisores e demais serviços que têm por missão fiscalizar o cumprimento da lei.
E aí… é que ‘a porca torce o rabo’. Já não é só a propriedade que é estrangeira. Quem administra, ou controla, é também estrangeiro, ou contratado por estrangeiros. Onde fica, então, o interesse nacional? Será natural que uma gestão planeada a partir do estrangeiro, executada e controlada por estrangeiros, sirva o país?
Em tempos, o portuguesíssimo BCP disputou com o Deutsche Bank a propriedade de um banco polaco. Hoje, parecerá ficção mas, por essa altura, o BCP era maior que o Commerzbank, e, no caso, até venceu um dos gigantes da banca europeia. Fiquei então a saber que, no confronto milenar que opõe a Polónia à Alemanha, sete em cada dez polacos defendem patrioticamente os interesses nacionais, enquanto os outros três são pagos para escancararem as portas que permitem aos alemães comprar tudo o que lhes interessa no vizinho mais pobre.