São “os últimos republicanos”. A dinastia mais importante na direita americana de hoje – os Bush – não votou em Donald Trump para um cargo que já foi seu.
“Este homem não sabe o que significa ser presidente”, considera W. Bush sobre Trump, em novo livro.
Na medida em que a escolha dos outros três antigos presidentes norte-americanos ainda vivos – Jimmy Carter, Bill Clinton e Barack Obama – já era pública, pelas naturais razões de simpatia partidária e pessoal, em revelações deste fim de semana, Trump ficou a saber que não foram só os Democratas que não votaram nele: nem os dois ex-
-presidentes do partido que o elegeu – o Republicano – o têm em boa conta para a presidência.
O pai (H.) votou em Hillary Clinton; o filho (W.) votou em branco.
Um fanfarrão
A relação entre o clã Bush e Donald Trump não é pacífica há algum tempo. Quando enfrentou Jeb, o Bush mais novo, nas primárias do ano passado, considerou o ex–governador da Florida uma “vergonha para a sua família”, depois de este o considerar um “idiota”.
Um ano de presidência Trump depois e são os Bush mais velhos a tecer duras críticas ao atual inquilino da Casa Branca.
George H. W. Bush, que foi presidente entre 1989 e 1993, e George W. Bush, seu filho, que esteve no mesmo cargo entre 2001 e 2009, lançaram agora um livro em formato de entrevista a ambos e o título, já citado, não engana. “Os últimos republicanos” representa uma afronta direta ao homem que foi eleito pelo Partido Republicano, mas que pouco tem a ver com o ‘republicanismo’ que os Bush defenderam e exerceram nos últimos 30 anos de vida pública.
“Não gosto dele. Não sei muito sobre ele, mas sei que é um fanfarrão. Não estou muito entusiasmado com a sua liderança”, disparou Bush pai no livro assinado em parceria com Mark Updegrove. Bush filho, cuja doutrina económica era distinta – mais aberta – que o protecionismo de Trump, admite até: “Receio ter sido o último presidente republicano.” Para ele, o facto de o atual presidente “explorar e incitar ao ódio” mostra que não tem ideias “para lidar com ele”.
Contrastes profundos
Em entrevista, Updegrove, que é autor de várias obras sobre a presidência, esclareceu:_“Se olharmos para os valores dele [W. Bush] e que partilha com o pai [H. W. Bush] e com Ronald Reagan, são valores que contrastam substancialmente com os valores do Partido Republicano de hoje, com a plataforma em que Donald Trump concorreu, baseada em protecionismo e alguma xenofobia.”
A porta-voz da Casa Branca, Sarah Huckabee Sanders, apressou-se a sair em defesa oficial do incumbente. Em comunicado, argumentou: “O povo americano votou para eleger um outsider capaz de implementar mudanças reais, positivas e necessárias, em vez de um político de longa data, comprometido com interesses especiais.”
“Se o povo americano estivesse interessado em manter décadas de erros, teriam eleito outro político do establishment, mais preocupado em colocar a política acima das pessoas”, terminou a porta-voz de Trump.
O alvo era evidente: os Bush. Para uns, dinastia; para outros, aparelho. Indiferente, o livro não será.